segunda-feira, julho 31, 2006

Uma "lista de Earl" para o FX

O canal FX está com uma propaganda interessante na sua programação. Baseando-se na lista de "coisas erradas" de Earl Hickey em My Name is Earl, o espectador pode enviar para o canal uma lista de coisas erradas que tenha feito e gostaria de consertar na sua vida.

FX logo is hosted by ImageShackMeu lado "povão esperançoso", que se mantém adormecido há uns 30 anos, mandou dizer que nem ele acredita que, além da pura marketagem, essa poderia ser uma iniciativa legal no sentido de levar as pessoas a pensar e talvez até a tomar uma atitude de consertar pequenos deslizes pregressos. Mas, como de costume, fica a cargo do próprio canal nos dar uma certeza inescapável de que isso realmente nunca acontecerá: a propaganda passa em português no Brasil, mas o painel para enviar sua lista simplesmente não está disponível no site brasileiro do canal! Por outro lado, também como sempre, se você procurar em espanhol, vai ver que está lá. Na drop-down para indicar o seu país, nem mesmo existe a opção "Brasil"!

Depois de mais esse exemplo de competência dos nossos canais a cabo, já se acumulam tantas más recordações que eles mesmos poderiam fazer sua lista e começar a corrigi-la, buscando nunca mais errar nas mesmas coisas. Quer ver alguns exemplos?

"Nós, as três pessoas por trás do canal FX Brasil (quatro, se contar o faxineiro), nos comprometemos a corrigir as seguintes cagadas cometidas constantemente em nossa programação, entre outras mais discretas e de menor monta a serem escolhidas em futuro próximo:

Earl's list is hosted by ImageShack1- Dessincronizar áudio e vídeo diariamente e continuar dizendo que somos um canal de televisão;

2- Jamais diferenciar português de espanhol – nas vinhetas, no site, nas legendas, nos tais interstitials e em quaisquer caracteres que venham a aparecer relacionados à nossa programação. Afinal, nem mesmo sabemos diferenciar os países em que essas línguas são faladas!

3- Contratar péssimos serviços de legendagem para os carros-chefe do nosso canal, The Office e My Name is Earl.

4- Esquecer que o vídeo tem um controle de vermelho, atualmente ajustado no nível "guerra de tomate no inferno de Mercúrio durante o verão".

5- Quadricular pornografia depois de 11h da noite, quando o canal é, teoricamente, voltado para homens adultos.

6- Passar os mesmos "interstitials" dezenas de vezes durante uma mesma hora – às vezes, dois iguais literalmente em seguida, sinal de quem ninguém realmente está acompanhando a programação.

7- Permitir que Rádio FX continue indo ao ar.

8- Trocar horários na nossa programação sem avisar o espectador, deixando de transmitir programas que já vinham com horário fixo (inclusive os carros-chefe!) pra passar produções nacionais vagabundas ou simplesmente alongar parte do programa anterior.

8- Construir um site enfeitadinho e colorido, mas sem qualquer funcionalidade, escrito em portunhol e que não permite aos espectadores de boa vontade dar um feedback.

9- Não ligarmos para o feedback, já que o assunto veio à tona. Pra isso, antes é necessário criar uma ferramenta decente para correspondência, uma que não encaminhe tudo direto para a pasta "lixeira" do nosso servidor.

10- Deixarmos de reprisar todas as temporadas de Arrested Development e de Bullshit!, duas das mais valiosas produções já exibidas na TV e que jamais deverão ser esquecidas. Não estamos nem aí, preferimos passar Stripperella.

11- Não investir em produção local realmente inovadora (como nenhum canal a cabo, aliás), de forma a transmitir programas realmente originais e voltados para a audiência masculina inteligente brasileira, que não pensa só em sexo e automobilismo. Com isso, poderíamos parar de repetir tudo o que já vem sendo transmitido nos demais canais a cabo há anos e seríamos realmente diferentes.

12- Montar uma propaganda em que um compatriota nosso, campeão internacional de skate, desfila sua ignorância com a declaração "Andar de skate pra mim é tudo... Comer, respirar, andar de skate...".

Novos itens serão adicionados diariamente. Nossas desculpas antecipadas,

Canal FX Brasil"


Esteja à vontade para adicionar itens, caro leitor e caro FX. Assista à programação, pesque mais algumas dessas orelhadas fortes e envie no fórum em espanhol mesmo, já que nós, "brasilianos", não temos vez no site. Não fique só nos detalhes! A programação está cheia de erros grosseiros para você se divertir.

Boa lista para você, pequeno gafanhoto.

sexta-feira, julho 28, 2006

Vingadores Anual #1

Preciso começar mencionando o meu status de ignorante em universo Marvel recente, ok? Não deixo nenhuma dúvida quanto a isso.

Desde o começo dos anos 2000, quando os X-Men se dividiram em 39 equipes – com Wolverine em todas – e os Vingadores tinham basicamente todos os personagens da Marvel em sua formação, a editora perdeu meu respeito e eu parei de acompanhar seu universo regular. Ajudou bastante o fato de que, na mesma época, as histórias de Justiceiro, Demolidor, Quarteto e Homem-Aranha estavam abaixo de qualquer bom conceito. Atualmente, só me interessam o "Ultiverso" (no Brasil, com o inacreditável nome de "Millennium") e o multifacetado selo MAX, além de acompanhar notícias sobre os personagens tradicionais.

Vingadores Anual is hosted by ImageShackDito isso, comprei essa Vingadores Anual n.1 depois de ler a premissa em sites (e na capa) e de dar uma folheada numa loja. Com aquela proposta de recontar os primeiros dias da equipe com mais coesão e detalhes, achei que valia. Era algo fora da atual continuidade, e era um assunto que eu conhecia de outras épocas. Não faço a mínima idéia de como vem sendo recontada a origem do grupo nos últimos anos, mas eu nunca tinha entendido bem algumas passagens da história tradicional, desde a primeira (tentativa de) formação dos Vingadores até sua primeira grande reformulação, quando só sobrou o pelinha Capitão América. Não que minha memória seja um prodígio...

Sempre rolavam umas lacunas. Por exemplo, quando encontraram o bandeiroso congelado desde o pós-guerra, Homem de Ferro e companhia já formavam uma equipe? E, afinal, o Hulk estava nesse meio, como já foi afirmado e desmentido e reafirmado? O que rolou pra todo mundo debandar e precisarem "recriar" a equipe com outros fulanos, pouco tempo depois de sua criação? E quanto a todo aquele papo de filiação governamental, que nunca ficava claro?

A revista consegue preencher muitos desses espaços sem muita firula nem muita invenção. Gostei dela por conta disso, e talvez sejam motivos muito pessoais. Se você conhece bem as respostas para as perguntas acima e outras, aí provavelmente a revista seria redundante ou até contraditória com as suas "crenças fundamentadas". Caso não saiba de tudo, como eu, e ainda tenha uma certa saudade daqueles tempos mais simples, com a formação clássica e personagens velhões que a gente já conhece, eu aconselho a leitura. Mas se você é ainda bem novato, pode ter problema...

Muita coisa já sedimentada vira pressuposto, e o novato pode acabar boiando. Há saltos entre períodos curtos e algumas soluções são meio apressadas, ainda que Joe Casey procure justificar tudo e criar um fio mais lógico para momentos que antes pareciam desconexos. Só que, dada toda a "complexidade" da história original, construída em anos, nem seria possível recontá-la tintim por tintim em uma só edição (mesmo considerando que esse material saiu nos EUA em forma de minissérie). Não haveria espaço para introduzir e explicar as novas amarras e ainda esclarecer o leitor mais recente a respeito daquilo que já foi contado e não mudou, e que às vezes nem lida diretamente com a formação da equipe e seus primeiros dias.

Assim, quando a cena abre no meio de uma batalha, o pessoal das antigas já tem uma boa noção do que se passa, mas o fã mais jovem não reconhece boa parte dos envolvidos. Coisa semelhante acontece quando Mercúrio e a Feiticeira Escarlate entram na história e falam de uma "fuga" de um país europeu misterioso e de preconceito por eles serem "diferentes". Ou ainda com a introdução do Barão Zemo, cuja origem e relação prévia com o Capitão América não ficam totalmente claras. Por tudo isso, é importante ter sempre em mente que estamos lendo uma grande recapitulação, e Casey tenta apenas dar unidade à história de formação da equipe, costurando decentemente seus momentos mais decisivos. Não dá pra negar que a trama, perfeitamente acompanhável, fica mesmo um pouco corrida. E alguns buracos, como toda a questão de datas, é melhor nem analisar a fundo.

O que interessa, a meu ver, é justamente a amarração e também a atualização de alguns conceitos. Por exemplo, sempre considerei as falas empoladas do Thor um porre, mas lembro bem que os outros personagens reagiam com naturalidade. Agora, a exemplo d'Os Supremos (a versão ultimate dos Vingadores), o Deus do Trovão é visto na história como um sujeito meio doido, dado a discursos improvisados, pontos de vista ingênuos e uma conversa tida como absurda sobre uma "gloriosa Asgard" e "meu pai, Odin" – a ponto de o Homem de Ferro perder a paciência e exigir uma confirmação daquilo tudo. E recebe, num dos bons momentos da revista. Taí uma boa explicação para a tal naturalidade nos anos que viriam.

This Scott Kolins' panel is hosted by ImageShack

A arte de Scott Kolins eu já conhecia dos quadrinhos do Flash e de uma minissérie surreal do Lanterna Verde, cujo nome não lembro mais. Pois é, não deixei de acompanhar a DC. Gostava bastante do cara nessas histórias, inclusive. Nessa edição com os Vingadores, não sei dizer se ele decaiu muito no geral ou se eu já estava delirando quando conheci seu trabalho, mas nem vou pegar as da DC pra comparar. Há momentos com a qualidade que eu elogiaria antes e há outros em que o desenhista escorrega tão violentamente que a gente se pergunta se é o mesmo cara. Basta abrir no quadro de página inteira com o descongelamento do Ameriquinha pra perceber erros graves de anatomia e perspectiva. Mas isso fica longe de comprometer a revista como um todo. Em geral, não me agrada o estilo cartunesco (como animated series ou em muitos mangás), mas Kolins foge do traço cheio para um mais vacilante e deixa o desenho mais dinâmico, com um detalhamento muito sutil. O resultado é sempre bem interessante.

Para o zé-leitor como eu, o mais importante nessa história toda de "valer a pena" é, claro, o custo-benefício. A revista custa 20 reais. Mesmo eu tendo apreciado a história da forma como descrevi, considero um pouquinho salgado – sem papel especial nem capa cartonada, mas com um bom volume de páginas. Ainda assim, não é nenhum preço abusivo (como os da Devir, por exemplo). Para quem acompanhava esporadicamente e parou, ou mesmo lê a Marvel há anos e já está bem acostumado com algumas passagens "históricas" em flashbacks e outras recapitulações, recomendo como boa complementação ao que já se sabia. Para experts e novatos, prefiro deixar a dúvida.

terça-feira, julho 25, 2006

Microsoft confirma Zune, concorrente do iPod

Tocadores de MP3: qual é mais durável, qual tem mais capacidade, mais funcionalidades, qual é mais bonito e qual eu devo usar? Ainda não comprei nenhum - mais pelo preço -, mas isso não deve ficar assim por muito tempo...

Antes de confirmar oficialmente que vai mesmo lançar um gadget novo chamado Zune, a Microsoft adotou um posicionamento que eu, como leigo no ramo dos negócios, não consigo entender. Durante o último mês, todos os veículos de comunicação interessados em tecnologia, sem exceção, especulavam sobre o lançamento de um eventual concorrente para o iPod, estrela da rival Apple, e as perguntas à gigante não foram poucas. Sempre que confrontada a respeito, a M$ não apenas negava como fazia questão de argumentar que aquilo não tinha fundamento, que não era a época certa, a prioridade era o software, yadda-yadda-yadda. E aí eles realmente soltam um media player depois desse trabalho todo.

Zune logo is hosted by ImageShack

Minha pergunta: se esses altos executivos sabem exatamente o que se passa entre eles - nada desse papo de "segredo industrial" - e se o público é que estaria interessado no produto, então pra quê todo o trabalho de negar?? Nesse meio-tempo, a empresa já tinha registrado o domínio ComingZune e, com essa posterior confirmação, descobrimos que ZuneLive.com também já vinha reservado (ainda sem uso). A M$ acabou perdendo ZuneScene e ZuneNation, registrados com antecedência pelos famosos grileiros virtuais, que já os usam para fazer graça e inventar história a respeito do futuro player. Mas servem à M$ mais ou menos do mesmo jeito...

Bom, no fim, eles vão lançar mesmo e a questão da estratégia deve perder importância pra todos os lados.

O que importa é como vai se comportar esse bagulhinho novo. Saiba dos fatos e das especulações em torno do Zune num bom post da revista Engadget. Sobre o histórico do projeto (que pode revelar detalhes sobre seu futuro), um dos blogs da Wired, por exemplo, afirma que a M$ desenvolveu o Zune a partir de uma das ramificações da linha Xbox, que eles chamavam internamente de "Projeto Argo". Já li em outro lugar que o Zune traria avanços antes prometidos no Origami - um computador entre o palmtop e o laptop, lançado com muito alarde e pouco sucesso pela M$ há pouco tempo. A junção dos dois esforços teria levado o Projeto Argo a se desenvolver numa linha em separado, na qual a empresa agora aposta como "projeto de música e entretenimento, que crescerá como uma família de software e hardware", segundo palavras oficiais. Como diz a Wired, mais detalhes devem aparecer depois de 27 de julho, quando a M$ terá de descrever futuros planos de negócios da empresa para seus acionistas. Só esperamos que não siga a trajetória de político em campanha do Origami ao passar de "forte concorrente ao iPod" para "maldito encalhe no atacado". Afinal, o título que o bichinho vem recebendo por aí - não sei se da imprensa, do público nos fóruns ou da própria M$ - é o de "iPod killer".

Muita gente especula que a M$ só lançaria algo assim no mercado, justamente tentando desbancar um líder absoluto neste momento, se seu player tiver novos recursos que realmente façam uma diferença monumental na hora da compra. E, claro, se vier com um preço mais acessível, também ajuda bastante e seria determinante para a maior popularização num mercado como o brasileiro. De cara, qualquer coisa relacionada a jogos já não me interessa. Seria um aumento certo de preço em um aparelho que eu gostaria de comprar para ouvir música e ver vídeo, e só. Num momento posterior, quando a linha básica já estivesse estabelecida, aí, sim, seria bem razoável lançar uma segunda geração com suporte para games, criando alternativas para os dois (ou mais) públicos.

This big Zune is hosted by ImageShackA atual preocupação mais aventada pelos detratores da M$ é a velha e folclórica qualidade duvidosa dos produtos da companhia - grande verdade, aliás. Lançar barato para popularizar, mas com um design sem atrativos (como o acima, tido como um protótipo pela maioria), uma bateria que vicia rapidinho, uma tela que arranha com vento, uma navegação contra-intuitiva e outros problemas do tipo não seria serviço nenhum. Ele talvez até desbancasse o iPod em quantidade, mas o quesito qualidade continuaria inalterado em prol de outros tocadores. Todo consumidor e vendedor de eletro-eletrônicos sabe que Cougars e Zeniths são bem acessíveis, mas bom mesmo é Aiwa.

De cara, na apresentação, já discutem o design. Não há dúvida de que, com o iPod, a Apple atingiu o ponto ideal a que os projetistas aspiram: beleza sem frescura, com simplicidade máxima de elementos e praticidade total intacta. O protótipo do Zune, pelo pouco que eu andei vendo por aí, não agradou, mas também não chegou a ser um empecilho. Confesso que, pelo preço certo, o design passaria batido pra mim, se os recursos fossem, no mínimo, equivalentes aos do iPod, e com ganhos.

E, nesse tocante a recursos, a exigibilidade varia bastante quando se pergunta pra esse ou aquele usuário mais exigente. Há quem recuse de cara a idéia de um sintonizador de FM, mesmo que não intrusivo. Eu mesmo não escuto rádio, porque não encontro rádio que preste, mas não veria diferença em haver ou não um sintonizador. Tanto faz. Um gravador de voz é algo de que nunca se sabe quando vai precisar. Se fica escondido, pode bem ser uma bela mão na roda em algum momento. Por que não?

O fim do DRM, como a Yahoo! já propõe, é uma das coisas que, a meu ver, faria uma diferença brutal em termos da relação loja-gadget, em especial lá fora, já que no Brasil essas lojas grandes não existem (chego a duvidar se "pegariam"). As tecnologias de Digital Rights Management (gerenciamento dos direitos de conteúdo digital) estão além de qualquer explicação racional. A definição não pode vir em palavra mais fraca que "imbecilidade".

Além dessa, há outra estupidez reinante no negócio da música digital que a M$ poderia resolver fácil: a da qualidade dos arquivos vendidos. Existe uma verdadeira enganação nesse ponto, a meu ver. Em vez de o cidadão comum, leigo em altas tecnologias, comprar um CD com a qualidade máxima permitida ao meio, ele compra música online pela comodidade, acreditando que "dá na mesma". Mas fica sem saber que os arquivos são vendidos com ridículos 128kbps de bitrate, comprimidos sabe-se lá com quais tecnologias e codecs. Tudo bem que, se estamos tratando desse mesmo "usuário comum" (uma figura de existência um tanto duvidosa, aliás), é costumeiro pensar que ele não notaria a diferença para 192 ou 256kbps. Mas será que é sempre assim? E quanto à variedade para os outros? E por que não oferecer só MP3s ou WMAs (claaaro...) de alta qualidade?

The small Zune is also hosted by ImageShackMas é melhor ignorar os dois últimos parágrafos... A não ser que estejamos próximos do apocalipse, a M$ tem tudo para continuar a ser como sempre foi: obtusa, gananciosa e ferrenha defensora do controle absoluto. Mesmo daquilo que não é dela e que você comprou com o seu dinheiro.

Na verdade, a grande discussão atual a respeito de inclusão no Zune trata da comunicação sem fio. Parece mesmo que é a ênfase da M$, pelo pouco que vazou do projeto até hoje. Nessa boa avaliação feita por um jornalista de tecnologia, que é também usuário constante e consciente dos universos de Apple e Microsoft, são enumerados alguns pecados do iPod, e a falta de acessibilidade sem fio é justamente um dos pontos principais. Se a M$ ficou de olho nesse tipo de feedback dos fiéis da Apple, o Zune bem poderia vir suprir muitas faltas. Além das que eu mencionei acima, o texto trata também de acessórios, navegação e outros aspectos interessantes.

O mercado está aberto nesse sentido, e a dominação do iPod não precisa ser definitiva. Resta saber se a M$ vai agir como de costume e nivelar por baixo ou se pretende dar um salto no quesito mídia. Isso, pelo menos, até que a Apple lance um "iPod Quantum", com o tamanho de uma lentilha, a capacidade de um servidor e o preço de um jipe.

Lostícias 1

(Essa primeira parte tem spoilers sobre o fim da atual temporada de Lost!).

Rodrigo Santoro is hosted by ImageShackBom, tudo o que eu posso dizer agora é "Eu sabia!!" e encaminhar pro post alheio onde eu dizia isso há mais tempo (adivinha quem é "TheBRod"...). Desde que eu vi o final de temporada de Lost, devidamente baixado da internet, tinha certeza de que chamariam pelo menos um ator brasileiro para participar da próxima. Rodrigo Santoro acaba de ser convidado.

Cheguei a me oferecer para o eventual papel, mas escolheram outro Rodrigo - certamente, um mais bonito e talentoso, hehe. Mas está tudo lá, na minha transcrição do diálogo final da temporada, que foi em português brasileiro capenga. Um entusiasta da série que mora no Havaí me pediu pra dar uma força, já que eu era a única pessoa que ele conhecia que fala português e poderia transcrever, traduzir e verificar a fidelidade das legendas em inglês apresentadas pra eles lá de fora. Aliás, ele acaba de postar a notícia do Santoro, que ele me pediu pra escrever em inglês.

The Portuguese-speaking dude is hosted by ImageShackDepois de feito o trabalho, só pude pensar nisso: "vão precisar de gente falando português brasileiro na próxima temporada" (veja cena ao lado). E aí vai Rodrigo Santoro para Lost... Cheguei a conversar a respeito com o cara havaiano, e acho que a anotação de que "há algo errado nesse diálogo, e deveriam chamar um brasileiro para isso" ainda deve estar lá em algum canto do post dele.

But, Mr. Cuse and Mr. Lindelof, I'm still here, in case you need the original translator, who happens to be another Rodrigo!!

Será que eles "ouvem"?... :)

***

Outra coisa que eu já vou adiantar antes que alguém mencione em site grande: o labrador Vincent não é "apenas" outro sobrevivente do acidente aéreo.

Vincent, the supernatural dog, is hosted by ImageShack

Seguindo pistas do ARG Lost Experience, lendo a respeito em sites fictícios apresentados no jogo (em especial, o Retrievers of Truth) e ouvindo um podcast estrangeiro que só resvala no assunto, deu pra perceber que isso não é exagero nenhum, nem teoria. Vincent realmente esconde alguma coisa que será revelada em breve - Vincent shows up twice, hosted by ImageShackquem sabe, no gancho espetacular que os produtores prometeram logo no começo na terceira temporada - e isso terá enorme impacto na série.

Pulando agora para a especulação mais franca, lá fora já se comenta que o monstro da ilha poderia ser um transmorfo que se apropriou do corpo do cachorro morto no acidente aéreo ou que esconde o cão verdadeiro e se passa por ele. O fato é que os produtores já adiantaram, para a terceira temporada, a informação de que a fumaça preta e o monstro barulhento não precisam estar necessariamente conectados, e que o "lostzilla" (como vem sendo chamado o bicho misterioso) na verdade esteve muito presente na segunda temporada e nós não o percebemos. Quem melhor do que Vincent pra encarná-lo e ainda passar despercebido?

Além da especulação do monstro transmorfo, há outra que faz bastante sentido: Vincent faria parte de um projeto paralelo da Fundação Hanso (assim como eu acredito que sejam os sobreviventes, mas aí é outra história, já contada no texto de
uma Serial Frila anterior).More Vincent hosted by ImageShack Dentre muitas outras experiências da fundação, é certo que há algumas envolvendo ao mesmo tempo animais, longevidade, psicologia e transplantes de órgãos. Perguntamos, então: teriam criado uma nova espécie que apenas lembra um cachorro? Ou teriam implantado um monitor no labrador? Juntando a duas especulações, aliás, a coisa faz ainda mais sentido: criado pela Hanso durante uma experiência altamente radical, o "novo espécime" teria sido colocado na ilha como sistema de segurança, podendo ao mesmo tempo encarnar um monstro (o que engoliu o piloto no primeiro capítulo não poderia ser outra coisa) ou um cachorro-monitor. Ou pessoas, porcos do mato, cavalos, tubarões-Dharma...

Seja pelo que for, guarde isso: não há dúvida de que o inocente Vincent ainda vai chocar os sobreviventes e os espectadores!

***

Lost's Persephone is hosted by ImageShackPor falar no jogo, vinha acompanhando o desenrolar da coisa "como ouvinte" pelos sites de fora (como o do havaiano), mas desisti de tentar entender nos últimos dias. Complicou demais! A Persephone já tem nome e rosto conhecidos dos jogadores (aí ao lado), outros sites já foram desvendados, novas dicas, novos nomes e tudo mais, mas as pistas anteriores só levaram para mais pistas estranhas, ainda sem frutos pra quem queira só saber mais sobre a série. Pros jogadores, há muita diversão pela frente; pros fãs em geral, vai saber...

E a ABC acaba de estender as etapas do jogo de três (inicialmente) para cinco. A quem eu estou enganando? Daqui a pouco, pego um resumo dos acontecimentos recentes e acompanho tudo de novo!

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Pra fechar por hoje, os bonecos de Lost, recém-lançados e já noticiados pra todo lado. Quem me dera poder comprar um carinha desses, qualquer um. O Hurley e a cena da escotilha em especial...


Charlie action figure is hosted by ImageShack Kate action figure is hosted by ImageShack
Locke action figure is hosted by ImageShack The hatch is hosted by ImageShack
Hurley action figure is hosted by ImageShack Jack action figure is hosted by ImageShack
Locke action figure is hosted by ImageShack Shannon, boa até como action figure, is hosted by ImageShack

segunda-feira, julho 24, 2006

Gata não-Negra

Taí um negócio que não dá pra entender, se for verdade. Afinal, por que usar Theresa Russell se poderíamos ter Ellen Pompeo?

Theresa Russell is hosted by ImageShack Ellen Pompeo is hosted by ImageShack

No filme novo do Homem-Aranha, Russell (bonitaça aos 49) foi contratada para viver a esposa de Flint Marko, o Homem-Areia. Rola um boato forte, até hoje não confirmado, de que a personagem se chamaria Felicia Hardy. Acontece que esse nome, nas HQ, é a identidade secreta de uma anti-heroína chamada Gata Negra, talvez pouco mais velha que o próprio Homem-Aranha e uma cópia deslavada da velha Mulher-Gato, da concorrente DC.

Uma quantidade absurda de sites não apenas espalhou o boato como aproveitou para esticar o falatório por conta própria, divulgando a falsa informação de que Theresa-Felicia teria também a identidade da Gata Negra no filme. Se ainda não há confirmação nem do nome "Felicia Hardy", então, pra todos os efeitos, dizer algo sobre a Gata Negra seria forçar demais. O tal boato diz que Russell seria Felicia Hardy, mulher do vilão arenoso. No IMBD, inclusive, a personagem ainda é creditada somente como "Mrs. Marko".

Se formos levar em consideração o que diz o boato, sem aumentá-lo, poderia ser o caso de "Mrs. Marko" ter como nome de solteira Felicia Hardy, na continuidade própria do filme. Ou então, numa daquelas adaptações criativas que os filmes fazem com o conteúdo dos quadrinhos (e que muitas vezes até dão bem certo), podem tentar recriar totalmente a Gata Negra, mudando sua origem, o histórico ao lado do personagem principal, suas motivações e tudo mais, transformando-a originalmente em mulher do Homem-Areia e seguindo a partir daí. Mas qualquer menção à personagem é especulação pura.

Gata Negra is hosted by ImageShackPartindo pra esse lado, então, e ao largo das "certezas" de muito site de informação por aí, eu garrei a matutar: se quisessem usar mesmo a Gata Negra num provável quarto filme (ou até nesse próximo, já que a gente ainda não conhece detalhes do roteiro), não seria tão difícil reescalar uma atriz que realmente cumprisse todos os requisitos ao mesmo tempo – os do filme e os da HQ – e ainda mantendo muito da "proposta visual" que buscaram com Theresa Russell.

Ellen Pompeo, a Meredith Grey da série Grey's Anatomy, está bem na cara. Com a audiência da série, não faria mal a ela um papel secundário, com promessa para desenvolvimento no quarto filme. Pompeo tem muito do tipo físico da bela Russell e daria uma ótima Gata Negra, se realmente resolvessem trazer a Felicia Hardy original e cumprir os tais requisitos. Aos 36, passaria fácil como mulher do Thomas Haden-Church (45); passa também como pouco mais velha que Peter Parker (e não é o que acontece em Grey's Anatomy?) e ainda faria a Mary Jane se retorcer de ciúme, coisa que eu duvido que Russell, mesmo lindona, possa fazer sem os escritores forçarem a barra um bocado. Não digo por qualquer comparação de beleza entre elas (capaz de a mais velha ganhar nessa) ou pela idade, mas muito mais pela discrepância entre as figuras de um Peter Parker meninão e de uma mulher madura feito a veterana Theresa pulando pelos telhados num colante.

Foi um pensamento fanboy que ocorreu há uns tempos. Mas digo isso tudo sem saber como vão aproveitar a "Mrs. Marko". E, claro, a coisa toda é puro produto de boato...

quinta-feira, julho 20, 2006

Serial Frila:
Aumentando a música

The Serial logo is hosted by ImageShackO assunto em pauta é, mais uma vez, músicas usadas nas séries, com uma pontinha para as propagandas. A aceitação das anteriores foi muito boa e a gente pretende fazer mais sempre que possível. No cardápio, My Name is Earl, REM, In The Sun, Kansas, Chopin, Everwood e mais.

Leia aqui: Aumentando a música

domingo, julho 16, 2006

Knights of Cydonia e o passado no futuro

Como correlacionar clima de faroeste e uma região no planeta Marte? Um mané de pouca criatividade viria com "muito simples, dois pontos" e, decoradinha, a resposta dada pelo Muse no vídeo da música Knights of Cydonia, recém-chegado à internet. Mas não. A idéia que resulta do vídeo não é de forma alguma simples: se o homem ainda pretende conquistar Marte, e se é tudo imaginação e podemos passar por cima de umas inconsistências, quem sabe não poderíamos vir a repetir a sangrenta história da conquista do oeste americano?

O vídeo, incrivelmente engraçado e bem filmado, traz essa questão desenvolvida na forma de um western vagabundo até a medula, daqueles ultra-granulados e cheios de riscos, com cortes malucos, interpretações canastronas e conflitos muitas vezes ridículos (resolvidos de maneira idem). A noção de spaghetti western misturado com ficção científica barata já tinha sido lançada pelo multi-homem Matt Bellamy para descrever a faixa quando do lançamento do álbum Black Holes and Revelations, mas o diretor foi tão fundo que tomou até parte da letra. Ou teria sido outra influência dos músicos?

Num fórum, durante uma discussão a respeito do vídeo que estava sendo filmado, cheguei a dizer que, com as declarações anteriores de Bellamy e o clima que a música realmente evoca, a gente só poderia esperar por um vídeo divertidíssimo e à moda do desenho (e HQ) Bravestarr – justamente um western futurista que unia Velho Oeste, armas de laser, avanços científicos, cavalos e veículos possantes. Falei um monte de detalhes imbecis também, delírios de fã que não se concretizaram. Mas, na idéia geral, não deu outra!

Uma das viagens do vídeo é com relação à data. Na abertura do curta ficcional fuleiro (chamado, claro, Cavaleiros de Cydonia), aparece uma data em algarismos romanos, como já foi costume no gênero faroeste. Mas a inscrição MCLMXXXI não faria sentido segundo a regra de leitura da numeração romana. Uma aproximação seria algo como M = 1000, C = 100, LM = 950 e XXXI = 31, o que soma 2081, mas em notação errada (a correta seria MMLXXXI).

Na tela escrito "The End" (e você acha que não haveria uma??), aparecem de novo os romanos, mas agora ligeiramente diferentes: MCMLXXXI, dois algarismos em lugares trocados. Mas isso é 1981 em notação correta! Será que o filme era tão feito nas coxas que os produtores nem sabiam contar? Isso é atenção aos detalhes, faz parte da brincadeira (como acusam outros trechos de escrita errada nos créditos). Mas esse é apenas o começo.

Quem quer que tenha tido essa idéia genial foi ainda mais fundo, ao considerar o trecho da letra que diz "a hora de fazer a coisa certa chegou". O tempo correu e, naquele futuro em outro planeta, o passado se repete com a violência grassando de novo durante nova conquista de um território inóspito. Futuro (2081) repete passado (1981), e a relação de exatamente um século entre as datas é feita mudando um detalhe quase insignificante! Como se isso não bastasse, a letra repete até o fim o verso "time has come to make things right". Justamente no fim do filme... a data está escrita corretamente e refletindo melhor a época de filmagem de um faroeste!

Melhor que essa amarração é a idéia de que, em 2081, o próprio Muse já seria uma banda bastante velha. Pois o pessoal no saloon (sim, também tem) projeta no palco um holograma (em DVD!) da banda tocando, e os integrantes aparecem como almas esbranquiçadas, remetendo justamente ao fato de serem música "velha" e ainda a uma brincadeira com cidades-fantasma, outro conceito tipicamente western.

Mais uma: antes do lançamento, Bellamy tinha dito que o vídeo, de certa forma, continuaria uma idéia do vídeo de Sing For Absolution, um dos singles do álbum anterior. Nele, a banda é mostrada em uma espaçonave cujo rumo parece ainda desconhecido. Ela cai num planeta destruído e os três se surpreendem ao ver o parlamento britânico em ruínas. E não é que a dica agora é uma Estátua da Liberdade semi-enterrada, levando de novo (e mais literalmente) ao enredo principal de Planeta dos Macacos? "Espera aí, não era Marte?" Era, mas deixa correr a brincadeira da coisa. E por que destroços da Terra não poderiam estar em Marte, a essas alturas?

E eu já mencionei que é divertido até mandar parar? No finzinho, ainda rola uma nova piada sutil e ótima: "Recorded in Hi-Fidelity Mono". Inteligência e diversão andando juntas, nada menos que o Muse em essência.

UPDATE (20 ago 2006): ótimas fotos do making of.

UPDATE (17 set 2006): um concurso proposto pelo próprio Muse desafia o fã a descobrir 15 referências a filmes que estão ocultas no clipe de Knights of Cydonia. Mas já se descobriu que, na verdade, há em torno de 27 referências (o participante podia entrar no concurso com quaisquer 15), dentre as quais: Star Wars, Buck Rogers, Maverick, Battlestar Galactica, Mad Max, Batman, Lone Ranger, The Matrix, Planet Of The Apes, Kung Fu, Blade Runner, High Plains Drifter, The Searchers, Once Upon A Time In China, Heavy Metal, The Good The Bad The Ugly, Five Deadly Venoms, Legend. Agora, adivinha se eu ganhei algum pôster.... Pf...

domingo, julho 09, 2006

Strokes e o underground

Não é de hoje que um crítico aqui ou um fã mais informado ali querem comparar os Strokes ao Velvet Underground.

Eu, sinceramente, nunca consegui ver essa semelhança. Considero a comparação um grande elogio aos Strokes, exatamente pelo seu despropósito. É como quando dizem a uma dona arrumadinha que ela se parece muito com alguma estrela de cinema; valeria uma risada, um "obrigado", mas certamente não se deve deixar levar por algum mérito da questão. É um mero agrado. Até vejo muito valor em faixas como Last Nite, Hard To Explain, New York City Cops, 12:51, Juicebox e momentos de outras poucas. Ouvi os três discos e vi apresentações dos Strokes, nem sempre como fã da banda, mas como fã de rock divertido. De tudo isso, nunca vi base para compará-los ao estilo do Velvet Underground.

Então, o Casablancas cismou agora de fazer uma cover de Walk on The Wild Side, da carreira-solo do Lou Reed. Tudo bem, novaiorquinos, urbanóides, famílias abastadas, os caras têm isso em comum. Mas será que dá pra comparar os (nunca) "salvadores do novo rock" com uma banda que, em sua época, jamais teve 1/10 do destaque que os Strokes têm hoje? Não, não vou me deixar levar pela forma, pela fama e discussões bestas do gênero. Vamos ao conteúdo: o VU tinha som tosco, mal-gravado, tocado bem nas coxas, com tecnologia deficiente, ensaiando em um lugar freqüentado por tantas influências quanto seria possível na cidade mais cosmopolita do mundo e com uma espécie de proposta de levar as ruas reais à música, enquanto levava a música das ruas àquele ambiente felizinho criado pelos hippies, mostrando que a "Era de Aquário" não era bem assim para todos. O wild side já era presente, e fazer as pessoas enxergarem isso era a urgência da banda. Conseguiram com tantos louvores quanto é possível no ramo da música.

Já os Strokes não têm nada disso. Tudo é controlado, medido e limpo. Nada de lançamentos crus, faixas viscerais e hipnóticas, nada de patrocínio de um artista offbeat megalomaníaco, que ajudava a definir diretrizes igualmente malucas para os jovens músicos, guiando a revolução. Contraponto curioso, aliás: VU é causa, Strokes são conseqüência. O som dos caras de hoje, muito mais burilado em estúdio, é resultado do resultado: sofreu nítida influência do punk diluído por anos de convivência com a indústria. Enquanto isso, o Velvet Underground, no outro extremo, ajudou a construir o punk original, bem sem querer.


Render-se ao pop e à mídia, como conseqüência da diluição, torna o som stroke muito mais palatável, acessível ao público de hoje, e o distancia demais daquelas experimentações pós-lisérgicas pelas quais o Velvet se tornou célebre. Não é desmerecimento nenhum a nenhuma das bandas, só uma constatação da diferença de tecnologia, de posicionamento e da sonoridade resultante. Simplesmente não cabe comparação nesse caso, em terreno algum.

Se o caso é o de comparar com qualquer coisa – e os Strokes realmente demandam comparações com outros sons da antiga – o Television será sempre a primeira opção. Rock mais franco e menos experimental, tonalidades parecidas, estruturas muito próximas. Nunca Valensi, Fraiture e companhia conceberiam uma Waiting For The Man ou uma Sweet Jane, e menos ainda uma perturbadíssima Heroin. Não é de seu feitio alegrinho de quem leva na testa o letreiro "queremos mesmo é comer todas as atrizes possíveis". Mas dali poderiam sair, sim, netas de See No Evil, Marquee Moon, Venus ou Elevation. Rock mais direto e divertido, menos preocupado com genialidade e imortalidade.


Cada um com suas qualidades, mas não misturemos as coisas...

terça-feira, julho 04, 2006

Black Holes and Revelations, do Muse

Depois de vender mais de 3 milhões de cópias no mundo com a obra-prima Absolution, de 2003, o Muse vinha prometendo publicamente um álbum pra cima, falando menos de fim do mundo e com mais "divirta-se, que a vida é curta". Só que, em se tratando de uma banda megalomaníaca e que tem o doido varrido Matt Bellamy como frontman, nem mesmo o fã mais obsessivo poderia imaginar o que isso queria dizer.

Black Holes and Revelations, que acaba de sair na Inglaterra, revela-se a festa do Muse. O quarto álbum de estúdio foi apresentado à imprensa inglesa em primeira mão durante festas em circuito fechado, com fones de altíssima fidelidade e sem fio. O conjunto – álbum, novidades tecnológicas e regabofe – tem impressionado positivamente todos os sortudos que já puderam presenciar.

Supermassive Black Hole, o primeiro single do disco a ser lançado (online) no Reino Unido, já prenunciava uma tendência diferentona de certa forma. Era a música mais dançante, mais sexy e descompromissada de toda a carreira de Bellamy, Dom Howard e Chris Wolstenholme até então, a ponto de não ser nada difícil enxergá-la como uma possível Song 2 para o Muse. Sob essa óptica, periga a banda sair do atual nicho indie (rótulo ainda ouvido mesmo depois de a banda tocar para mais de um milhão e quinhentas mil pessoas em 2004) e virar presença obrigatória em clubes que queiram soar sofisticados, mesmo no Brasil. É impressionante neste trabalho a quantidade de faixas dançantes, uma variação quase inédita do estilo do Muse até então. Conte comigo: a strokiana Starlight, a princeana Supermassive, a neworderiana Map Of The Problematique, a radioheadiana Take a Bow, a morriconiana Knights of Cydonia e a systemofadowniana (ufa!) Assassin.


Encontros de frentes e correntes

Essa "multidão em uma banda só" é um reflexo das influências inusitadas que os três ingleses sofreram em tempos recentes, e não apenas musicais. Segundo declararam em entrevistas, ouvia-se muito Ennio Morricone e Depeche Mode durante a composição do álbum, ocorrida em grande parte num castelo semi-abandonado tornado vinícola no sul da França. Foi então que, em certo momento, a usual paranóia dos rapazes ficou tão fora de controle com o isolamento que eles resolveram carregar seu material inacabado para Nova Iorque. Andar nas ruas, voltar a ler as notícias e freqüentar boates novaiorquinas para desopilar os levou a absorver um novo clima de celebração e introduzi-lo nas gravações. Lá se ia parte da instrospecção costumeira.

Esse embate de ares tão opostos resultou numa dualidade interessante. O tal "clima pra cima", planejado desde o início, finalmente encontrava uma brecha para aflorar e decididamente foi alcançado em termos de composição. Mas a elaboração das letras continuou refletindo o outro lado, o mesmo que a banda sempre explorou. Criou-se uma certa complementaridade, no sentido de que a música pedia mais movimento e animação, enquanto o texto continuou circulando os temas caros a Bellamy: obsessões humanas, extremos de sofrimento, prazer e culpa, delírios de grandiosidade reprimida, histórias mal-resolvidas que levam ao desespero e, claro, a astronomia representando a nossa pequenez no Universo.


Daí que comparações temáticas ou estilísticas com o Depeche Mode ou os Pet Shop Boys não seriam despropositadas. São letras sérias, ocasionalmente delirantes, em cima de música dançante e tensa, com arranjos sofisticados e, no caso do Muse, com peso, virtuosismo e a habitual dose cavalar de drama. As palavras do letrista continuam longas e entoadas como lástima ("Destrooooooy thiiiiiiis city of deluuuusion" ou "No one's gonna take meee aliiiiive").

No sentido lírico, a maior novidade é a pitada de política em diversas faixas (Take a Bow, Assassin, Exo-Politics, Soldier's Poem e City of Delusion, em especial). O tema era quase inexistente nos trabalhos anteriores, e aqui também não é escancarado em menções diretas a pessoas ou fatos. Há uma mensagem clara e indignada para que se crie uma maior conscientização política geral, mais voltada aos anônimos que aos líderes, sem atacar guerras, denunciar terrorismo ou condenar esse ou aquele governante. Os integrantes têm deixado isso claro e evitam mencionar certas palavras-chave que poderiam causar polêmicas não-intencionais.

Trata-se de uma transição: raiva e sofrimento, temas antigos, são agora direcionados para mover pessoas a transformar o que está errado. O enfoque de Take a Bow ("Você será queimado e julgado por seus crimes contra a Terra, você deve pagar, você implora, curve-se"), City of Delusion ("Defenda suas crenças, alcance o divino, destrua essa cidade de enganações, derrube suas paredes"), Assassin ("Pessoas destruídas tornam-se assassinas; chegou a hora de unir forças no submundo e derrubar nossos líderes; oponha-se e destrua a demonocracia"), entre outros exemplos, é o de construir o novo destruindo o antigo que se tornou corrompido e não mais se importa comigo ou com você. A razão de ser do rock'n'roll talvez continue sendo manifestar a rebeldia...

A exceção mais claramente otimista do álbum fica por conta de Invincible e seus versos "turma da Xuxa" – aquela coisa de "você pode, você consegue, somos invencíveis e juntos venceremos a semente do mal". Pode-se argumentar, entretanto, que nem aí haveria uma fuga dos temas habituais: o personagem retratado na letra parece um tanto obcecado por sua cara-metade (junto à qual ele se diz invencível); ela, por sua vez, anda meio deprê, precisando do encorajamento do rapaz interessado. Fala sério, você não adora essas histórias de co-dependência e demais distúrbios psiquiátricos do Muse?


Bohemian milk-shake in Valhalla

Mesmo com tudo isso perpassando o processo de composição, os traços de identidade da banda se mantêm firmes, e o novo disco não deixa o terreno do rock em praticamente momento algum. O trio vem ensejando comparações com o Queen desde Origin of Symmetry, de 2001, por sua mistura criativa de canto e estrutura operística com piano floreado, peso de metal setentista, eletrônica "cósmica" e o uso de cinqüenta canais sobrepostos por faixa, criando momentos emotivos bem diferentes contrastando dentro da música.


Tais comparações devem continuar. Só que, para efeito de atualização, pense agora num cruzamento dos elementos mais clássicos do Queen com o hard rock mais direto do Deep Purple e uma séria mãozada de... É seguro dizer Santa Esmeralda? Imagine Freddie Mercury cantando árias flamencas em falsete dentro de uma boate techno modernete, rodeado por uma muralha desgraçada de overdrives e efeitos de guitarra e baixo muito bem orquestrados. Nas mãos sempre competentes de Matt, Chris e Dom, Black Holes and Revelations saiu como uma combinação catártica e divertidíssima de bom rock pesado pra dançar e berrar, seguindo bem de longe a tendência atual de gente como Franz Ferdinand, Strokes, Killers e mais algum hype que brotar de céu limpo por aí. A diferença está no experimentalismo e, portanto, no total descompromisso que a banda tem com o "rock para garotas bonitas se acabarem".

O clima claustro-dançante não é a única novidade nas atividades da banda. Muito se falou de trompetes e saxofones durante a confecção do disco (de novo, experimentações e Morriconnes). Os músicos sugeriam isso em entrevistas, os fãs se remoíam, pensando na esquisitice que estava por vir. No resultado final, muitos desses metais acabaram substituídos por sons sintetizados mais "convencionais", enquanto uns poucos trompetes ainda presentes soam naturais, bem encaixados dentro dos contextos em que caberiam. Mais um ponto para a experimentação da banda.


Bellamy também admitiu repetidas vezes em entrevistas que teve leve inspiração do trabalho de seu pai, George Bellamy, guitarrista da banda de surf music The Tornados nos anos 1960 – uma "prazerosa descoberta, em pleno 2005", segundo disse. Até então, aquela música era tida pelo magrinho falante como "embaraçosa". Em alguns momentos do disco, Bellamy realmente importa as "lambidas" de guitarra típicas daquele estilo, somando-as ao caldeirão de ingredientes.


Três elementos, quinze instrumentos

Para dar conta de reproduzir toda a sua loucura ao vivo, o Muse pela primeira vez se permitirá ter um músico de apoio no palco, além dos três membros. Nunca foi segredo que, pela própria impossibilidade física, alguns canais das músicas ao vivo eram executados por sintetizador ou sampler. Nos shows mais recentes, e para a futura turnê de lançamento do novo trabalho, o multi-instrumentista Morgan Nicholls aparece como um tecladista-guitarrista auxiliar nos palcos, sem se tornar membro da banda. Nicholls já havia substituído o contundido baixista Wolstenholme em shows de 2004, depois de aprender o complexo setlist do Muse em 4 dias, pelo que diz a lenda. Diante disso, Matt Bellamy já acalmou os fãs, dizendo que não abandonará seu piano e as geniais extravagâncias de Space Dementia, Butterflies and Hurricanes ou Sunburn nas apresentações.

Infelizmente, no novo trabalho de estúdio, faz falta justamente piano romântico. Para o leitor confuso: "romântico" não quer dizer "Julio Iglesias", mas sim um estilo de época (século XIX, começo do século XX) no qual comumente se enquadram Chopin, Liszt e o compositor russo Sergei Rachmaninoff. Bellamy, pianista de formação erudita profissional e admirador do russo, afirma que, no começo do processo de composição, havia bastante material no piano, mas a banda resolveu deixar isso um pouco de lado por não combinar com o espírito que eles queriam para o disco. Sobraram só uma linha em Hoodoo e algumas escalas e crescendos furiosos à moda de Bliss espalhados pelo álbum. As grandes performances pianísticas poderão ser conferidas apenas ao vivo, em músicas de carreira.

Se o piano ensandecido deu uma sumidinha, as guitarras synth distorcidíssimas e as vozes múltiplas de Bellamy continuam as mesmas. Enquanto isso, o baixo de Chris Wolstenholme passou por mudanças. Aqui, não aparecem tantas linhas destacadas e quase independentes de trabalhos anteriores, como em Hysteria, Muscle Museum ou New Born. O baixista optou por manter seu tradicional som caracterizado por timbres diferentes (do baixo rubber-band ao puro synth), mas agora mudando um pouco o fraseado para "apenas" sustentar os grooves imaginados por Bellamy e executados por Dom Howard.

O baterista, por sua vez, provavelmente nunca trabalhou tanto. Reverências a ele, sempre um monstro de criatividade e agilidade que agora se supera. Conseguiu destaque absoluto em todo o álbum, com atenção para as constantes variações rítmicas entre porradaria, latinidade, climinhas jazzy, quebras de tempo e a energia incrível de todos os momentos dançantes do CD. Num álbum que privilegia o ritmo, o homem se mostra um verdadeiro drum hero, por assim dizer.


FX a FX

Não é necessário avançar muito na primeira audição do álbum para se perceber algo diferente na habitual mistura, aqui traduzida em novos níveis de experimentação. Isso já acontece na abertura, com Take a Bow, junção tensa de uma base de videogame no sintetizador, um baixo technopop, o clima paranóico de costume e uma batida que sai de um 3/4 estranho para uma espécie de blues muito nervoso que não decide o que quer ser. Por cima, o vocalista solta uma história de corrupção, responsabilidades, crimes e punições, como que em um julgamento em esferas celestiais.

Abruptamente, no ápice do barulho miserável resultante, entram baixo e guitarra retos, com a batida pop de Starlight e um riff de piano tão simples quanto memorável. Deve-se muito aos Strokes nessa faixa, segundo palavras do próprio compositor do Muse. O tempo em Nova Iorque levou a banda a ter mais contato com a chamada "nova cena rock", mas sem aqueles vocais monótonos de megafone. Há um vocalista versátil e dramático à disposição, como Julian Casablancas não conseguiria ser. Excelente momento de reapropriação do Muse, numa faixa que deve tocar bastante no segundo semestre e que carrega o título do disco em um de seus versos ("Our hopes and expectations, black holes and revelations").

O primeiro single "físico" britânico saído do disco é Supermassive Black Hole (capa ao lado), uma faixa de inegável apelo pop – duplo papel que fora desempenhado por Time Is Running Out no último trabalho. Supermassive causou um estranhamento enorme quando de seu lançamento online (ou no vazamento anterior), por conta da batida funkeada e dos vocais em falsete. Todo mundo se perguntou o que tinha acontecido com o velho estilão da banda, que ali emulava Prince e chegava a ser comparada a Britney Spears, apesar do belo trabalho de guitarra com influência de Hendrix. A faixa funciona muito bem no contexto, como seqüência para Starlight e entrada para Map of the Problematique, que se segue, mas, considerada à parte, realmente não se parece muito com o tipo de material apresentado pela banda até hoje.

Matt Bellamy para o tablóide The Sun: "É uma das faixas mais incomuns do álbum, quando comparada a tudo o que viemos fazendo em nossa carreira. Vínhamos sendo associados a um certo 'epic rock' e esse single é exatamente o oposto disso. É dance e é divertido! Muitos dizem que querem fazer algo de diferente uma vez ou outra, mas fico muito feliz por realmente termos feito isso nessa música".


Com o efetivo lançamento de Black Holes and Revelations, os fãs perceberam que o toque suingado calhou de sair assim nessa faixa, mas não representava um total redirecionamento do estilo como um todo – ainda bem! Supermassive é ótima, uma música que abriu o caminho do álbum por meio do choque e realmente preparou terreno para novidades, mas os fãs mais antigos do Muse não ficariam muito satisfeitos com um disco que seguisse inteiro a mesma cartilha.

Felizmente, a influência se mostrou influência, como mostra o petardo seguinte. Map Of The Problematique comprova esse acerto com todos os louvores possíveis: é a música que o New Order de 1988 gostaria de conseguir produzir em 2006 e já não é mais capaz. Não há dúvidas de que Peter Hook poderia assumir o baixo, com Gillian Gilbert nos teclados e Stephen Morris na bateria, numa reimaginação dessa música. A introdução também empresta de Enjoy The Silence, do Depeche Mode, influência confessa. Map merece todos os remixes que devem aparecer nos próximos meses. Pelo que já se viu das faixas ao vivo até o momento, essa é uma das que prometem ser obrigatórias, como um ponto alto e "infeccioso" da apresentação. É essa a nova cara do Muse em sua voltagem máxima, num dos melhores momentos do trabalho.

Toda a bela construção até o momento recai em grande infelicidade na transição para Soldier's Poem. Digamos assim: se toda festa precisa daquele momento de dançar colado, Soldier's Poem é esse momento, a baladinha com muita cara de anos 50 e batida jazzy. Poucas vezes se viu algo assim do Muse, o que inclusive explica por que ela foge demais do estilo da banda e do ritmo do álbum. Torna-se um grande problema enfiá-la depois de uma sequência fortíssima, e a quebra abrupta do ritmo que vinha sendo criado não é agradável. Soldier's Poem destoa demais – afinal, quem diria que seria possível lembrar de Everybody Hurts ouvindo um CD do Muse!? Não é necessariamente uma faixa ruim. Até que funciona isolada, é bonitinha no que se propõe, mas sofre pela posição no CD e pela ausência de inovação. Deveria ter sido lançada somente como um lado B. No contexto do disco, não faria falta alguma.

Seguindo adiante, não é bem Invincible que salva a pátria. Ela também não é ruim; basta ouvi-la fora de contexto algumas vezes e percebe-se que há um excelente trabalho instrumental. Mas parece uma música que está eternamente "para acontecer". Não convence como deveria. Tem uma das letras mais otimistas da história de uma banda que se fundou em temas apocalípticos. Seria coincidência? A parte instrumental poderia ter se saído excelente assim mesmo, mas acaba resultando repetitiva, ainda que muito bem executada. O crescendo funciona muito melhor em Take a Bow. Verdade seja dita, se ela viesse antes de Soldier's Poem e criasse um "amortecedor" entre o começo explosivo e a baladinha, provavelmente teria sido mais fácil entender. Com uma eventual exclusão de Soldier's Poem, Invincible funcionaria certamente muito melhor, porque não seguiria o momento "chato", e mais ainda porque seria, ela, a ponte para a "segunda parte" do disco.

Felizmente, o Muse das antigas chega para o socorro, na forma de Assassin e Exo-Politics. A primeira vinha sendo executada ao vivo como "Debase Mason's Grog" (ou ainda "Majestic Blue"). A introdução era infinitamente mais pesada, o que faz a versão do álbum soar algo engraçada em comparação. Outra coisa: havia um breve interlúdio de guitarra que lembrava boas coisas do Van Halen, mas ele acabou excluído da versão definitiva, mais comportada, ainda que tenha mantido o peso e o refrão ganchudo espetacular. Ainda assim, a maquiagem tornou-a uma grande aquisição ao repertório, buscando momentos anteriores de proximidade com o metal, como Stockholm Syndrome, unidos à grande atmosfera festeira de Black Holes and Revelations. Destaques para a bateria e para a mixagem, que incorpora milhões de vozes e sonzinhos discretos a um baixo que ganhou som de guitarra.

Exo-Politics é uma legítima representante das safras de antigamente. Mais um ponto alto, mas também outra faixa que soava melhor nas prévias ao vivo, ainda sob a influência de Absolution. O nome provisório era "Burning Bandits" (entre outros). A introdução era bastante diferente, feita por uma guitarra meio "árabe" e misteriosa, com um baixo dominador entrando junto com a bateria. Tinha um quê mais oriental e militarista, e bem gostaríamos de ver como isso resultaria em estúdio. Entretanto, com excelentes ponte, riff e refrão mantidos, o resultado final é nada menos que perfeito.


Assassin e Exo-Politics foram as duas únicas faixas que já eram conhecidas ao vivo e conseguiram lugar no disco. Outras duas sairão como lados B de singles.

City of Delusion entra em seguida para dar continuidade à retomada de pulso, mas se atrevendo a introduzir novos e interessantíssimos elementos. É um grande momento de latinidade, unindo um solo de trompete mariachi a um violão flamenco e, claro, jamais faltam as cordas megalomaníacas e a distorção da guitarra. Seria a irmãzinha mexicana mais nova de Butterflies and Hurricanes, com características muito diferentes dentro de uma estrutura semelhante (em especial, o final). Mesmo que não soe tão coesa a princípio, City of Delusion cresce demais depois de algum tempo e ganha um lugar de merecimento muito maior dentro do álbum. Tecnicamente, uma faixa riquíssima.

O clima latino é retomado com o início de Hoodoo, mas agora pense mais para o lado da bela Blackout, do disco anterior. São pequenos "atos" dentro da faixa, com uma entrada flamenca e mais influências de surf music, até que, finalmente, temos os pianos-Bellamy, marca registrada da banda, ainda que contidos e restritos a uma só linha. A faixa não convence tanto quanto poderia; é outro momento que "parece que vai" e se conclui em poucos passos. Mas o caso dessa é o inverso do de Invincible: considerada no conjunto, Hoodoo se sobressai como uma espécie de introdução ao fim invariavelmente grandioso que se aproxima.

Knights of Cydonia promove a continuidade – sem dúvida, no maior "momento Queen" do disco. Um fechamento espetacular em vários sentidos. Surge até mesmo um misterioso "vocal Roger Taylor" de fundo, mais agudo que nunca. Nesse perfeito épico, ouvindo com atenção, podemos mesmo perceber ecos do clássico Telstar (o grande hit dos Tornados) junto a vocais espaciais, metal setentista, sintetizador de hospício fazendo base e uma fantástica aura de faroeste spaghetti, herdada das tais audições de Ennio Morricone. Não à tôa, título e letra fazem menção a cavaleiros duelando pela sobrevivência.

A faixa tem tanta força em absoluto, em comparação e ainda no conceito dos integrantes, que deu origem à capa do CD, obra do premiado Storm Thorgerson, o mestre por trás do prisma, das cabeças e das lâmpadas do Pink Floyd, e ainda dos homens voadores de Absolution. Os quatro sujeitos à mesa sobre um solo vermelho, tendo a Terra meio apagada lá no fundo do céu, seriam os Cavaleiros de Cydonia, senhores de uma região em Marte onde fica localizada a famosa "grande face". Cada um veste um terno que representa "grandes problemas do nosso mundo", segundo explicou Bellamy. Seriam eles a vaidade (espelhos), a falta de privacidade (olhos), a ganância (ouro) e o fanatismo religioso (símbolos). Típico delírio do compositor para encerrar o espetáculo de maneira transbordante – o próprio já se referiu diversas vezes à faixa como "aquela coisa estranha que a gente fez, da qual se orgulha muito, e que o pessoal adorou ao vivo".


Contando os pontos

Tentando deixar de lado a genialidade de Absolution – quanto ao qual não cabem comparações, por ser um verdadeiro marco –, vamos imaginar que, se o disco atual viesse em seguida a Origin of Symmetry (o segundo), teríamos uma evolução estarrecedora, realmente gritante em vários sentidos. Quando, então, reintroduzimos na linha do tempo o álbum anterior, percebemos que houve diferença, mas não a temida mudança de personalidade que "se prenunciava". Black Holes and Revelations revela-se, na verdade, o próximo passo quase natural – aquele que, ao mesmo tempo, é um tanto diferente e mantém a qualidade. Um passo para o lado, no mesmo degrau; um álbum, portanto, para se aplaudir de pé.

Afinal, o Muse se mostra uma banda que sabe manter seus colhões roqueiros no lugar, enquanto faz música dançante. A banda não teve medo de se pôr à prova, e não apenas em questões de formato. Por esse lado, mostrou-se a coragem dos caras, arriscando no experimentalismo rumo à direção mais acessível (de certa forma) e dançante (idem), com toda a insegurança que isso acarreta. Enquanto isso, o conteúdo brinca levemente com elementos ainda mais contagiantes do que tudo aquilo que veio antes, sem perder um milímetro da personalidade consagrada e consolidada da banda e da verve insana do rock que ela vinha praticando. Querer mais, elaborar direito, arriscar a tentativa – isso é crescer, sem dúvida. O tal risco foi bem medido, bem executado e, no fim, se pagou de sobra.

Se é que se pode apontá-la, a única má impressão geral, fora a quebra de ritmo no meio do caminho (o que pode ser até bem visto, dependendo do freguês), é a de que Black Holes and Revelations é o mais curto dos quatro trabalhos de estúdio. É sempre um ótimo sinal quando consideramos que mais material seria bem-vindo.


Aliás, podemos mesmo esperar por mais, graças ao novo disco. Em entrevista recente à Kerrang, Matt Bellamy declarou que um dos lugares que ele gostaria de visitar durante os próximos meses de turnê é o Brasil. Não, não foi "América do Sul", mas nominalmente Rio de Janeiro, Brasil. Ok, Sr. Bellamy, entendido, estamos no aguardo.

sábado, julho 01, 2006

Possibilidades

Já há tempos pensava em abrir um blog que fosse diferente de alguma forma. Nada daquele papo afetado de "especial pra mim", não é isso. Era um blog que fosse como uma coluna, tratando do meu contato com a cultura pop – que me cutuca diariamente em busca de comentários.

A Serial Frila está lá, à minha disposição, no velho SoBReCarGa, mas ela tem seus limites... Ficava me sentindo um pouco preso a arranjar temas para escrever colunas cheias, até que resolvi fazer uma em estilo de postagens (veja) e gostei muito do resultado (apesar de uma confusão que arrumei entre uns posts e só vi depois). Não sou editor lá, não concordo com muito do que ocorre no site. Além disso, queria publicar sobre tudo e responder apenas a mim mesmo, ao meu formato, minha linguagem, e sustentar uma multi-coluna que viesse de produção independente tanto quanto possível. A formação da coisa? Mais ou menos essa descrição confusa em cinza aí, ao lado do título e com meu nome assinando a bagunça.

Então, tive esse "clique" com a tal coluna-post e criei esse endereço aqui no Blogger, sem configurar, sem muita coisa (ainda). Escrevo este post inicial só como um teste para ajeitar os espaços. Vamos ver se morre aqui ou se, por alguma razão, acabo saindo de um grande site que promove muita exposição para um mero blogzinho pessoal, que nada trataria de política, vida pessoal ou mesmo de meros gostos. Formam-se opiniões sobre desgostos também...

O lema do blog seria "cultura pop tratada muito a sério, e só"! Com esse "a sério", quero enfatizar o respeito por uma cultura que não é muito respeitada, mas que, ao mesmo tempo, não tem barreiras de países ou línguas e abraça muitas gerações interessadas em conhecer e consumir. Enfatizo o respeito que considero obrigatório para se publicar jornalismo – informações, grafias, nomes e títulos de forma correta –, um ponto fundamental pra mim e, acredito, para qualquer jornalista e fanático pela cultura pop que não está por aí de oba-oba. Também respeito com a formatação, com a teoria da notícia e da análise, com a pertinência de conteúdo, com os fundamentos nas argumentações, com apuração das infindáveis relações que existem entre quadrinhos, TV, filmes, bandas, músicas, lançamentos, tecnologias, movimentos, DVDs e essa bagunça que é a internet. E muito respeito ao português, coisa raríssima em blogs e sites de cultura pop, escritos de qualquer jeito por qualquer um.

Tentemos a sério, então. Bem-vindo a uma possibilidade.