terça-feira, julho 25, 2006

Microsoft confirma Zune, concorrente do iPod

Tocadores de MP3: qual é mais durável, qual tem mais capacidade, mais funcionalidades, qual é mais bonito e qual eu devo usar? Ainda não comprei nenhum - mais pelo preço -, mas isso não deve ficar assim por muito tempo...

Antes de confirmar oficialmente que vai mesmo lançar um gadget novo chamado Zune, a Microsoft adotou um posicionamento que eu, como leigo no ramo dos negócios, não consigo entender. Durante o último mês, todos os veículos de comunicação interessados em tecnologia, sem exceção, especulavam sobre o lançamento de um eventual concorrente para o iPod, estrela da rival Apple, e as perguntas à gigante não foram poucas. Sempre que confrontada a respeito, a M$ não apenas negava como fazia questão de argumentar que aquilo não tinha fundamento, que não era a época certa, a prioridade era o software, yadda-yadda-yadda. E aí eles realmente soltam um media player depois desse trabalho todo.

Zune logo is hosted by ImageShack

Minha pergunta: se esses altos executivos sabem exatamente o que se passa entre eles - nada desse papo de "segredo industrial" - e se o público é que estaria interessado no produto, então pra quê todo o trabalho de negar?? Nesse meio-tempo, a empresa já tinha registrado o domínio ComingZune e, com essa posterior confirmação, descobrimos que ZuneLive.com também já vinha reservado (ainda sem uso). A M$ acabou perdendo ZuneScene e ZuneNation, registrados com antecedência pelos famosos grileiros virtuais, que já os usam para fazer graça e inventar história a respeito do futuro player. Mas servem à M$ mais ou menos do mesmo jeito...

Bom, no fim, eles vão lançar mesmo e a questão da estratégia deve perder importância pra todos os lados.

O que importa é como vai se comportar esse bagulhinho novo. Saiba dos fatos e das especulações em torno do Zune num bom post da revista Engadget. Sobre o histórico do projeto (que pode revelar detalhes sobre seu futuro), um dos blogs da Wired, por exemplo, afirma que a M$ desenvolveu o Zune a partir de uma das ramificações da linha Xbox, que eles chamavam internamente de "Projeto Argo". Já li em outro lugar que o Zune traria avanços antes prometidos no Origami - um computador entre o palmtop e o laptop, lançado com muito alarde e pouco sucesso pela M$ há pouco tempo. A junção dos dois esforços teria levado o Projeto Argo a se desenvolver numa linha em separado, na qual a empresa agora aposta como "projeto de música e entretenimento, que crescerá como uma família de software e hardware", segundo palavras oficiais. Como diz a Wired, mais detalhes devem aparecer depois de 27 de julho, quando a M$ terá de descrever futuros planos de negócios da empresa para seus acionistas. Só esperamos que não siga a trajetória de político em campanha do Origami ao passar de "forte concorrente ao iPod" para "maldito encalhe no atacado". Afinal, o título que o bichinho vem recebendo por aí - não sei se da imprensa, do público nos fóruns ou da própria M$ - é o de "iPod killer".

Muita gente especula que a M$ só lançaria algo assim no mercado, justamente tentando desbancar um líder absoluto neste momento, se seu player tiver novos recursos que realmente façam uma diferença monumental na hora da compra. E, claro, se vier com um preço mais acessível, também ajuda bastante e seria determinante para a maior popularização num mercado como o brasileiro. De cara, qualquer coisa relacionada a jogos já não me interessa. Seria um aumento certo de preço em um aparelho que eu gostaria de comprar para ouvir música e ver vídeo, e só. Num momento posterior, quando a linha básica já estivesse estabelecida, aí, sim, seria bem razoável lançar uma segunda geração com suporte para games, criando alternativas para os dois (ou mais) públicos.

This big Zune is hosted by ImageShackA atual preocupação mais aventada pelos detratores da M$ é a velha e folclórica qualidade duvidosa dos produtos da companhia - grande verdade, aliás. Lançar barato para popularizar, mas com um design sem atrativos (como o acima, tido como um protótipo pela maioria), uma bateria que vicia rapidinho, uma tela que arranha com vento, uma navegação contra-intuitiva e outros problemas do tipo não seria serviço nenhum. Ele talvez até desbancasse o iPod em quantidade, mas o quesito qualidade continuaria inalterado em prol de outros tocadores. Todo consumidor e vendedor de eletro-eletrônicos sabe que Cougars e Zeniths são bem acessíveis, mas bom mesmo é Aiwa.

De cara, na apresentação, já discutem o design. Não há dúvida de que, com o iPod, a Apple atingiu o ponto ideal a que os projetistas aspiram: beleza sem frescura, com simplicidade máxima de elementos e praticidade total intacta. O protótipo do Zune, pelo pouco que eu andei vendo por aí, não agradou, mas também não chegou a ser um empecilho. Confesso que, pelo preço certo, o design passaria batido pra mim, se os recursos fossem, no mínimo, equivalentes aos do iPod, e com ganhos.

E, nesse tocante a recursos, a exigibilidade varia bastante quando se pergunta pra esse ou aquele usuário mais exigente. Há quem recuse de cara a idéia de um sintonizador de FM, mesmo que não intrusivo. Eu mesmo não escuto rádio, porque não encontro rádio que preste, mas não veria diferença em haver ou não um sintonizador. Tanto faz. Um gravador de voz é algo de que nunca se sabe quando vai precisar. Se fica escondido, pode bem ser uma bela mão na roda em algum momento. Por que não?

O fim do DRM, como a Yahoo! já propõe, é uma das coisas que, a meu ver, faria uma diferença brutal em termos da relação loja-gadget, em especial lá fora, já que no Brasil essas lojas grandes não existem (chego a duvidar se "pegariam"). As tecnologias de Digital Rights Management (gerenciamento dos direitos de conteúdo digital) estão além de qualquer explicação racional. A definição não pode vir em palavra mais fraca que "imbecilidade".

Além dessa, há outra estupidez reinante no negócio da música digital que a M$ poderia resolver fácil: a da qualidade dos arquivos vendidos. Existe uma verdadeira enganação nesse ponto, a meu ver. Em vez de o cidadão comum, leigo em altas tecnologias, comprar um CD com a qualidade máxima permitida ao meio, ele compra música online pela comodidade, acreditando que "dá na mesma". Mas fica sem saber que os arquivos são vendidos com ridículos 128kbps de bitrate, comprimidos sabe-se lá com quais tecnologias e codecs. Tudo bem que, se estamos tratando desse mesmo "usuário comum" (uma figura de existência um tanto duvidosa, aliás), é costumeiro pensar que ele não notaria a diferença para 192 ou 256kbps. Mas será que é sempre assim? E quanto à variedade para os outros? E por que não oferecer só MP3s ou WMAs (claaaro...) de alta qualidade?

The small Zune is also hosted by ImageShackMas é melhor ignorar os dois últimos parágrafos... A não ser que estejamos próximos do apocalipse, a M$ tem tudo para continuar a ser como sempre foi: obtusa, gananciosa e ferrenha defensora do controle absoluto. Mesmo daquilo que não é dela e que você comprou com o seu dinheiro.

Na verdade, a grande discussão atual a respeito de inclusão no Zune trata da comunicação sem fio. Parece mesmo que é a ênfase da M$, pelo pouco que vazou do projeto até hoje. Nessa boa avaliação feita por um jornalista de tecnologia, que é também usuário constante e consciente dos universos de Apple e Microsoft, são enumerados alguns pecados do iPod, e a falta de acessibilidade sem fio é justamente um dos pontos principais. Se a M$ ficou de olho nesse tipo de feedback dos fiéis da Apple, o Zune bem poderia vir suprir muitas faltas. Além das que eu mencionei acima, o texto trata também de acessórios, navegação e outros aspectos interessantes.

O mercado está aberto nesse sentido, e a dominação do iPod não precisa ser definitiva. Resta saber se a M$ vai agir como de costume e nivelar por baixo ou se pretende dar um salto no quesito mídia. Isso, pelo menos, até que a Apple lance um "iPod Quantum", com o tamanho de uma lentilha, a capacidade de um servidor e o preço de um jipe.