sexta-feira, julho 28, 2006

Vingadores Anual #1

Preciso começar mencionando o meu status de ignorante em universo Marvel recente, ok? Não deixo nenhuma dúvida quanto a isso.

Desde o começo dos anos 2000, quando os X-Men se dividiram em 39 equipes – com Wolverine em todas – e os Vingadores tinham basicamente todos os personagens da Marvel em sua formação, a editora perdeu meu respeito e eu parei de acompanhar seu universo regular. Ajudou bastante o fato de que, na mesma época, as histórias de Justiceiro, Demolidor, Quarteto e Homem-Aranha estavam abaixo de qualquer bom conceito. Atualmente, só me interessam o "Ultiverso" (no Brasil, com o inacreditável nome de "Millennium") e o multifacetado selo MAX, além de acompanhar notícias sobre os personagens tradicionais.

Vingadores Anual is hosted by ImageShackDito isso, comprei essa Vingadores Anual n.1 depois de ler a premissa em sites (e na capa) e de dar uma folheada numa loja. Com aquela proposta de recontar os primeiros dias da equipe com mais coesão e detalhes, achei que valia. Era algo fora da atual continuidade, e era um assunto que eu conhecia de outras épocas. Não faço a mínima idéia de como vem sendo recontada a origem do grupo nos últimos anos, mas eu nunca tinha entendido bem algumas passagens da história tradicional, desde a primeira (tentativa de) formação dos Vingadores até sua primeira grande reformulação, quando só sobrou o pelinha Capitão América. Não que minha memória seja um prodígio...

Sempre rolavam umas lacunas. Por exemplo, quando encontraram o bandeiroso congelado desde o pós-guerra, Homem de Ferro e companhia já formavam uma equipe? E, afinal, o Hulk estava nesse meio, como já foi afirmado e desmentido e reafirmado? O que rolou pra todo mundo debandar e precisarem "recriar" a equipe com outros fulanos, pouco tempo depois de sua criação? E quanto a todo aquele papo de filiação governamental, que nunca ficava claro?

A revista consegue preencher muitos desses espaços sem muita firula nem muita invenção. Gostei dela por conta disso, e talvez sejam motivos muito pessoais. Se você conhece bem as respostas para as perguntas acima e outras, aí provavelmente a revista seria redundante ou até contraditória com as suas "crenças fundamentadas". Caso não saiba de tudo, como eu, e ainda tenha uma certa saudade daqueles tempos mais simples, com a formação clássica e personagens velhões que a gente já conhece, eu aconselho a leitura. Mas se você é ainda bem novato, pode ter problema...

Muita coisa já sedimentada vira pressuposto, e o novato pode acabar boiando. Há saltos entre períodos curtos e algumas soluções são meio apressadas, ainda que Joe Casey procure justificar tudo e criar um fio mais lógico para momentos que antes pareciam desconexos. Só que, dada toda a "complexidade" da história original, construída em anos, nem seria possível recontá-la tintim por tintim em uma só edição (mesmo considerando que esse material saiu nos EUA em forma de minissérie). Não haveria espaço para introduzir e explicar as novas amarras e ainda esclarecer o leitor mais recente a respeito daquilo que já foi contado e não mudou, e que às vezes nem lida diretamente com a formação da equipe e seus primeiros dias.

Assim, quando a cena abre no meio de uma batalha, o pessoal das antigas já tem uma boa noção do que se passa, mas o fã mais jovem não reconhece boa parte dos envolvidos. Coisa semelhante acontece quando Mercúrio e a Feiticeira Escarlate entram na história e falam de uma "fuga" de um país europeu misterioso e de preconceito por eles serem "diferentes". Ou ainda com a introdução do Barão Zemo, cuja origem e relação prévia com o Capitão América não ficam totalmente claras. Por tudo isso, é importante ter sempre em mente que estamos lendo uma grande recapitulação, e Casey tenta apenas dar unidade à história de formação da equipe, costurando decentemente seus momentos mais decisivos. Não dá pra negar que a trama, perfeitamente acompanhável, fica mesmo um pouco corrida. E alguns buracos, como toda a questão de datas, é melhor nem analisar a fundo.

O que interessa, a meu ver, é justamente a amarração e também a atualização de alguns conceitos. Por exemplo, sempre considerei as falas empoladas do Thor um porre, mas lembro bem que os outros personagens reagiam com naturalidade. Agora, a exemplo d'Os Supremos (a versão ultimate dos Vingadores), o Deus do Trovão é visto na história como um sujeito meio doido, dado a discursos improvisados, pontos de vista ingênuos e uma conversa tida como absurda sobre uma "gloriosa Asgard" e "meu pai, Odin" – a ponto de o Homem de Ferro perder a paciência e exigir uma confirmação daquilo tudo. E recebe, num dos bons momentos da revista. Taí uma boa explicação para a tal naturalidade nos anos que viriam.

This Scott Kolins' panel is hosted by ImageShack

A arte de Scott Kolins eu já conhecia dos quadrinhos do Flash e de uma minissérie surreal do Lanterna Verde, cujo nome não lembro mais. Pois é, não deixei de acompanhar a DC. Gostava bastante do cara nessas histórias, inclusive. Nessa edição com os Vingadores, não sei dizer se ele decaiu muito no geral ou se eu já estava delirando quando conheci seu trabalho, mas nem vou pegar as da DC pra comparar. Há momentos com a qualidade que eu elogiaria antes e há outros em que o desenhista escorrega tão violentamente que a gente se pergunta se é o mesmo cara. Basta abrir no quadro de página inteira com o descongelamento do Ameriquinha pra perceber erros graves de anatomia e perspectiva. Mas isso fica longe de comprometer a revista como um todo. Em geral, não me agrada o estilo cartunesco (como animated series ou em muitos mangás), mas Kolins foge do traço cheio para um mais vacilante e deixa o desenho mais dinâmico, com um detalhamento muito sutil. O resultado é sempre bem interessante.

Para o zé-leitor como eu, o mais importante nessa história toda de "valer a pena" é, claro, o custo-benefício. A revista custa 20 reais. Mesmo eu tendo apreciado a história da forma como descrevi, considero um pouquinho salgado – sem papel especial nem capa cartonada, mas com um bom volume de páginas. Ainda assim, não é nenhum preço abusivo (como os da Devir, por exemplo). Para quem acompanhava esporadicamente e parou, ou mesmo lê a Marvel há anos e já está bem acostumado com algumas passagens "históricas" em flashbacks e outras recapitulações, recomendo como boa complementação ao que já se sabia. Para experts e novatos, prefiro deixar a dúvida.