quarta-feira, setembro 13, 2006

Novas e velhas do R.E.M.

This picture is hosted by ImageShackDe férias desde o lançamento de Around The Sun, o R.E.M. anunciou recentemente que retoma suas atividades no estúdio agora no fim de 2006 para a gravação de um novo álbum em 2007. A preparação do terreno se dá com o lançamento múltiplo de mais uma coletânea da banda em diversos formatos - o que, acredito, deveria mais preocupar do que animar o fã aguerrido da banda.

This picture is hosted by ImageShackO lançamento de muitos CDs ao vivo ou de coletâneas em excesso - redundantes por natureza - costumam ser sinais de cansaço do artista, que quer viver da reedição de seu trabalho ao invés de produzir novidade. Por um lado, apesar de ser uma das bandas mais "andarilhas" durante toda a sua carreira, o R.E.M. até hoje nunca lançou um CD oficial que fosse inteiro ao vivo, apenas lados B e inclusões eventuais em coletâneas. Enquanto isso, os fãs podem contar com literalmente algumas centenas de bootlegs, que são inclusive vistos com bons olhos pelos integrantes (corre que Peter Buck até os coleciona). É uma pena, já que muitas apresentações foram memoráveis na íntegra e muitas músicas da banda sofrem alterações significativas e bastante positivas durante as apresentações.

This picture is hosted by ImageShackO outro lado é mais "preocupante" - nem chega a tanto, mas também não é sinal de coisa boa. Dependendo de como se conta, já somamos sete compilações do R.E.M., de naturezas distintas: Dead Letter Office (sobras e lados B da IRS, 1987), Eponymous (exatamente como a atual, uma coletânea dos tempos IRS, de 1988), The Best of R.E.M. (idem, mas com lançamento mais localizado, 1991), Singles Collected (apenas singles e apenas na Europa, 1994; mas qual a diferença entre um "best of" e uma coleção de singles que já representam o melhor de cada álbum??), In the Attic (de 1997; mais uma coleção de raridades da IRS, repetindo Dead Letter Office) e In Time (uma coletânea da era Warner entre 1988-2003, lançada em 2003).

This picture is hosted by ImageShackEssa novidade agora em 2006 é justamente a sétima da lista. O lançamento pode ser considerado triplo, na forma de dois CDs e um DVD. Todo o material reflete a primeira fase da carreira da banda, ainda na gravadora IRS. Não espere encontrar, portanto, Losing My Religion, Everybody Hurts ou What's The Frequency Kenneth?.

O CD And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years, 1982-1987 está sendo lançado nas versões simples e dupla. A primeira é apenas uma coletânea propriamente dita, e realmente reúne clássicos indiscutíveis; na versão com dois discos, o bônus é uma coleção de assim chamadas "raridades" que a banda juntou sem muito esforço (demos, sobras inéditas, remixes e demais versões diferentes de clássicos da banda, no geral). No Brasil, só Deus sabe qual será lançada...

O DVD, disponível à parte, se chama When The Light Is Mine: The Best Of the I.R.S. Years 1982-1987 Video Collection. Além de alguns videoclipes, traz também faixas ao vivo bem escolhidas, um mini-documentário de 20 minutos (Left of Reckoning, de James Herbert), trechos de entrevistas com a banda e algumas versões acústicas nos extras.

A lista completa de material é a seguinte:

And I Feel Fine (CD único ou CD1 da versão dupla)

This picture is hosted by ImageShack01. Begin the Begin
02. Radio Free Europe
03. Pretty Persuasion
04. Talk About the Passion
05. (Don't Go Back To) Rockville
06. Sitting Still
07. Gardening at Night
08. 7 Chinese Bros.
09. So. Central Rain (I'm Sorry)
10. Driver 8
11. Can't Get There From Here
12. Finest Worksong
13. Feeling Gravity's Pull
14. I Believe
15. Life and How To Live It
16. Cuyahoga
17. The One I Love
18. Welcome To the Occupation
19. Fall On Me
20. Perfect Circle
21. It's the End of the World AWKI (AIFF)


And I Feel Fine - bonus CD (apenas na versão dupla)

01. Pilgrimage (escolha pessoal de Mike Mills)
02. These Days (escolha pessoal de Bill Berry)
03. Gardening at Night (demo, versão lenta)
04. Radio Free Europe (Hib-tone version)
05. Sitting Still (Hib-tone version)
06. Life and How to Live It (ao vivo em Utrecht, Holanda, 1987)
07. Ages of You (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83)
08. We Walk (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83)
09. 1,000,000 (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83)
10. Finest Worksong (other mix)
11. Hyena (demo)
12. Theme From Two Steps Onward (demo)
13. Superman
14. All the Right Friends (primeira versão)
15. Mystery to Me (demo)
16. Just A Touch (ao vivo em estúdio)
17. Bad Day (demo, sobra de estúdio)
18. King of Birds (última faixa a ser cortada da coletânea)
19. Swan Swan H (acústica, do filme Athens, GA - Inside/Out)
20. Disturbance at the Heron House (escolha pessoal de Peter Buck)
21. Time After Time (Annelise) (escolha pessoal de Michael Stipe)


When The Light Is Mine (DVD)

This picture is hosted by ImageShack01. Wolves, Lower (videoclipe)
02. Radio Free Europe (videoclipe)
03. Talk About the Passion (videoclipe)
04. Radio Free Europe (ao vivo, The Tube, 11/18/83)
05. Talk About the Passion (ao vivo, The Tube, 11/18/83)
06. So. Central Rain (I'm Sorry) (videoclipe)
07. "Left of Reckoning" (vídeo de James Herbert)
08. Pretty Persuasion (ao vivo, The Old Grey Whistle Test, 11/20/84)
09. Can't Get There From Here (videoclipe)
10. Driver 8 (videoclipe)
11. Life and How To Live It (videoclipe)
12. Feeling Gravity's Pull (videoclipe)
13. Can't Get There From Here (ao vivo, The Tube, 10/25/85)
14. Fall On Me (videoclipe)
15. Swan Swan H (excerto de Athens, GA - Inside/Out)
16. The One I Love (videoclipe)
17. It's the End of the World AWKI (AIFF) (videoclipe)
18. Finest Worksong (videoclipe)
++. DVD extras: trechos raros de entrevistas e apresentações acústicas.


Ausência notável

Não sou do tipo que reclama da música obscura que eu adoro e ficou de fora de uma coletânea qualquer - até porque sou fã incondicional de toda a carreira do R.E.M. Se alguém quer tudo, que compre tudo, ou então arrume o material de algum jeito pra montar seu próprio CD. Mas não posso deixar de apontar uma estranheza que existe aqui de verdade, e principalmente se vista da forma mais objetiva possível.

This picture is hosted by ImageShackAntes de sua estréia em Murmur, o R.E.M. lançou um EP chamado Chronic Town, com cinco faixas (reeditado depois na íntegra na coletânea Dead Letter Office). Durante toda a década de 80 e até em parte da de 90, uma dessas cinco músicas foi usada com muita freqüência ao vivo, como uma espécie de "representante" desse EP. O nome é Carnival of Sorts (Box Cars). As outras apareciam bastante também, mas essa era uma garantia nos shows durante muito tempo, e é discutivelmente o melhor momento do EP. Curiosamente, Carnival of Sorts (e também Stumble, considerada a mais fraca até pela própria banda) foi agora deixada de lado, enquanto Gardening At Night, 1,000,000 e Wolves, Lower aparecem nas novas coletâneas de uma forma ou de outra.

Difícil entender por quê, num universo de mais de 50 faixas escolhidas, deixaram essa ótima música de fora, privilegiando as outras. Na coletânea anterior de material da IRS (aquela de 1991), Carnival of Sorts não apenas foi a única faixa do EP a ser incluída como era a primeira do disco!

Reitero que, no fundo, tanto faz. É só uma discrepância a ser apontada... Vamos então ao que mais interessa ao fã: o disco-bônus da coletânea em CD, com material que a banda considerou "raro" - mas que a gente sabe que nem é tão inédito assim. A banda se declara "particularmente satisfeita com o resultado do CD de bônus, cheio de faixas ao vivo, sobras de estúdio, as preferidas de cada integrante e versões alternativas". Pelo mesmo motivo, também fazem festa para o DVD, "com seu banquete de obscuridades e os vídeos pouco assistidos daqueles tempos".

Inéditas, mas nem tanto

As quatro faixas que trazem os dizeres "escolhidas por" são as mesmas que o pessoal já conhecia dos álbuns, assim como Superman (cover de uma banda chamada The Clique) e King of Birds (apontada como "a última a ser cortada da coletânea"). Essas iam ficar de fora da coletânea principal e então encontraram essa "desculpa" de incluí-las no CD bônus. As duas assinaladas como "Hib-tone version" são um pouco mais raras em suporte físico, mas já estavam disponíveis na internet há anos em boa qualidade - além do que essa gravação de Radio Free Europe esteve na coletânea Eponymous. São versões muitíssimo antigas das duas músicas, gravadas bem antes de suas versões finais, presentes em Murmur.

This picture is hosted by ImageShackGardening At Night (demo, versão lenta) estava na vitaminada reedição do álbum Reckoning, assim como o tal "other mix" de Finest Worksong já foi lançado oficialmente pelo menos umas três vezes. Estava na caixinha In The Attic, saiu como lado B de um single e também na reedição aumentada do álbum em que está a Finest Worksong original, Document. Também na coletânea In The Attic estavam Just a Touch gravada "ao vivo no estúdio" - o aparente paradoxo significa a banda inteira no estúdio ao mesmo tempo, gravando em um take só - e Swan Swan H em versão acústica, tirada do documentário Athens, GA - Inside/Out (disponível no Brasil em DVD). As duas faixas apareceram ainda na reedição aumentada do álbum Life's Rich Pageant.

O lado B do lado B

Gravada ao vivo na Holanda, Life and How to Live It traz um discurso de Stipe antes da música propriamente dita. Parece mesmo que nunca havia sido lançada oficialmente, mas estava em bootlegs fáceis de encontrar. O mesmo vale para o show no Paradise, em Boston, de onde tiraram Ages of You, We Walk e 1,000,000. A grande vantagem da edição oficial dessas faixas é a limpeza por que passaram, sempre bem vinda em relação ao som esquisito de muitos bootlegs. O lançamento oficial é inédito, mas ainda mais interessante é considerá-las assim pela clareza do som depois da remasterização, como muitas das que veremos a seguir.

A trilha sonora do filme Vanilla Sky trouxe a versão final da ótima All The Right Friends (2001). Toca boa parte dela logo no começo do filme. Mas essa mesma faixa já tinha sido gravada em 1983, numa versão bem diferente (e, até aquele momento, também definitiva), para o disco Murmur. Nunca chegou a ser incluída no álbum oficial. É essa versão primitiva que aparece agora bem clarinha e que já rodava a internet há tempos com som em meia-bomba.

As versões demo de Hyena, Theme From Two Steps Onward e Mystery to Me também já corriam a internet em arquivos nem sempre confiáveis. O som era uma bagunça. Considerando o grau de pureza que atingiram para essa publicação, ficaram bem mais agradáveis e podem mesmo ser consideradas inéditas. É realmente bem bacana ter essas versões decentes.

This picture is hosted by ImageShackUm caso parecido, mas ainda melhor, é o de (P.S.A.) Bad Day, uma sobra das gravações de 1985-1986 para Life's Rich Pageant. O estilo e parte da letra dessa demo deram origem à famosa It's The End of The World... no disco seguinte, mas sobrou material suficiente dela para que se sustentasse como faixa própria, e o R.E.M. não se esqueceu disso por anos. A banda então gravou uma versão definitiva de Bad Day (novo nome, inclusive nesta demo ora lançada) como extra para a coletânea In Time, de 2003. A demo original também estava disponível em bootlegs por aí, com som sofrível e muitas vezes incompleta, mas passou pelo mesmo processo de limpeza mencionado antes e ficou outra coisa! Mais uma ótima aquisição, até porque a música sempre foi muito boa e ainda carrega toda essa história.

Por onde andarão...?

Muito embora sites nacionais tenham espalhado que a banda estaria "em crise" ou que Bill Berry teria voltado à formação fixa, nenhuma das duas coisas procede. O fato é não houve novidades entre o R.E.M. de um ano atrás e a situação atual da banda, e o pessoal começa a inventar coisas. A banda se declarou literalmente de férias mesmo, durante esse período.

A falta de novidades não é necessariamente algo ruim. Peter Buck, Mike Mills e Michael Stipe aproveitaram seu intervalo da banda para cuidar de suas famílias, viajar e trabalhar em atividades paralelas - Buck em suas outras bandas, Mills na produção musical e no golfe e Stipe em suas companhias de cinema e na fotografia. O trio aproveitou esse período, por exemplo, para se encontrar algumas vezes com Bill Berry e manter as notícias em dia. Só não conversam sobre badalação.

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Há pouco tempo, os quatro improvisaram algumas músicas como presente de casamento a um amigo, técnico de som da banda. Atualmente, os amigos estudam a possibilidade de gravarem juntos alguma coisa com intuito inteiramente beneficente, mas apenas isso, e sem sair de Athens. Bill Berry, "o maior fã da banda", segundo o próprio, continua oficialmente aposentado e morando feliz em sua fazenda, longe do showbiz.

A única atividade formalmente prevista como reunião dos quatro acontece no dia 16 de setembro. A formação original do R.E.M. fará um único show, com apenas três músicas (oficialmente, mas espere surpresas), por ocasião da admissão dos quatro cavalheiros no Hall of Fame do Estado da Geórgia.

This picture is hosted by ImageShackEntretanto, os presentes no 40-Watt Club (em Athens), no último dia 12 de setembro, tiveram uma grande surpresa. O show-tributo Finest Worksongs, reunindo um punhado de músicos locais para tocar clássicos do R.E.M., estava sendo realizado no local como comemoração ao lançamento das coletâneas acima e à entrada da banda no Hall of Fame. O próprio R.E.M., como era de se esperar, não constava do line-up, mas apoiou o projeto desde o começo, uma vez que a renda do festival (e do CD resultante) seria encaminhada para projetos sociais. O que não se sabia é que o trio já se encontrava na cidade para a cerimônia do fim de semana, e acabou aparecendo por lá junto ao convidado Bill Berry. Não apenas os quatro prestigiaram o tributo como também fizeram uma discreta e rara apresentação.

Depois da introdução e agradecimentos feitos por Stipe, o quarteto tocou duas músicas das antigas (Begin The Begin e So. Central Rain), desceu do palco e foi assistir às bandas que entrariam em seguida, numa grande manifestação de humildade e de cumplicidade. Buck e Mills inclusive deram uma força em mais um monte de apresentações alheias. No final, Stipe subiu ao microfone, convocou ao palco todos os músicos presentes e comandou uma extensa versão de It's The End of The World As We Know It (And I Feel Fine) com todo mundo junto. Esperamos com ansiedade o tal CD beneficente (que não vai ser lançado no Brasil, claro), nem que seja só pela internet!

De resto, o baterista contratado Bill Rieflin declarou recentemente aquilo que a gente disse lá no começo.This picture is hosted by ImageShack Ele, Ken Stringfellow, Scott McCaughey e os três membros oficiais da banda pretendem mesmo voltar ao estúdio em meados de novembro e trabalhar "muitas idéias novas" que os três integrantes regulares tiveram durante este ano sabático. A expectativa é de um CD bem mais convidativo que o ponto baixo Around The Sun - que foi um álbum apenas decente e superior à maioria da produção musical atual, mas não um discaço daqueles, à altura do velho R.E.M. que nos deixou mal-acostumados.