
Huffman é certamente mais conhecida por seu atual papel na popularíssima série Desperate Housewives, como a working mom Lynette Scavo. Desde os primeiros capítulos da série, ela já se mostrava de longe a melhor atriz em cena, o que se comprovou ao longo das duas temporadas até o momento, em cenas como a sutil crise de ciúme de uma brincadeira entre seu marido e a fogosa Gaby, o ataque histérico provocado por seus filhos, a descoberta do caso de sua chefe ou a já famosa dança no balcão do bar, entre outras.
A interpretação da atriz para o transexual Sabrina 'Bree' Osbourne em Transamerica é o que rende ao filme uma classificação como "mediano, porém memorável". Parece algo contraditório, sem dúvida, mas, enquanto o filme como um todo não chega a ser assim tão entusiasmante, a atuação de Huffman é algo nada menos que indescritível. Isso não parte de alguma apelação fácil ou história lacrimosa.

Muita gente poderia considerar Transamerica um grande filme por conta disso, mas recairia numa confusão entre o filme em si e sua protagonista. Confusão justificável, claro, já que Bree praticamente é o filme. Mas a história - pouca, simples e eficaz no que pretende - não é lá das mais geniais ou originais. Nunca chega a ser notavelmente bem-escrita ou tão importante quanto aqueles que a vivenciam, num típico caso de filme-veículo em que Huffman é quem confere vida, coesão e credibilidade àquela sucessão banal, em forma de dignidade e de uma autenticidade extraordinária, o completo oposto de uma caricatura.

Quem põe a mesa é o também genial ator William H. Macy, desta vez fora de cena e "apenas" um produtor-executivo que sabia exatamente o que exigir do pessoal envolvido. "A primeira impressão que temos de Bree é chocante, porque ela é muito estranha e repulsiva", diz Macy. "No fim do filme, ainda que a maquiagem seja a mesma, você passou a adorar aquela mulher".
Ele e Felicity Huffman se conhecem há mais de duas décadas, casaram-se em 1997 e já têm duas filhas. Mas ainda aparecem em público com manifestações sinceras de carinho e formam um dos casais mais simpáticos e competentes do showbiz, daqueles que não precisam de beleza aviltante, badalação em festinha ou publicidade duvidosa em tablóides. Ambos salvam a delicada história de Bree de um destino fraco, e assim comprovam que saber do seu ofício é muito mais do que apenas pôr carinha bonitinha na tela.
