No fundo, sempre que um filme é realmente muito bom, não sobra muito a se dizer. Nós, críticos, até tentamos convencer o leitor com alguma recomendação e uns adjetivos que nem vão falar tanto assim; no fim das contas, só fica mesmo um "vá e veja". Apenas elogiar cada aspecto de uma ótima obra vai soar sempre como chuva no molhado...Obrigado Por Fumar (Thank You For Smoking) entrou há algumas semanas nos cinemas brasileiros e é o primeiro trabalho na direção de Jason Reitman. Vi na época da estréia, comecei a escrever e... Bom (veja posts passados), só agora pude concluir essa apreciação. Não, não vai ser uma crítica, não precisa ser. A intenção aqui é justamente a de não analisar. Basta dar um panorama sem elogios e os bons entendedores saberão do que estamos falando.
O filme retrata essa figura sobre a qual você já deve ter lido nos jornais (seja em algum caso real ou em resenha do filme), o "spin doctor" - acho que uma tradução bem razoável seria "um mestre em torcer as coisas e sair por cima em qualquer situação". O "doutor" em questão nem tem faculdade: Aaron Eckhart (de Erin Brockovich, Any Given Sunday e do aguardado The Black Dahlia) vive Nick Naylor, um lobista da indústria de cigarros com um talento natural para a retórica.
Como é de se esperar da figura descrita, são características indispensáveis a alta dose de cinismo e uma imagem irretocável, incluindo o sorrisão feliz da vida 24h por dia de quem diz "está tudo ótimo". Naylor é assim mesmo. Obrigado Por Fumar mostra alguns dias de sua vida, primeiro com um quadro geral e depois temperando com alguns assuntos particulares. Então, tudo desemboca num momento especialmente negativo, e o cara, lançando mão de seu próprio talento, vai tentar dar a volta por cima.No meio, Reitman, filho do diretor e produtor Ivan Reitman (Ghostbusters, Evolution, Old School), cria até certo ponto um cruzamento de The Insider (O Informante) com Good Night, and Good Luck (Boa Noite, e Boa Sorte), mas substituindo a sisudez de ambos (excelentes, aliás) por doses cavalares de um humor cínico, sutil e extremamente inteligente. Ah, e a respeito de polêmica recente, há mesmo duas cenas de sexo com Katie Holmes, nenhuma delas ofensiva ou "reveladora".
Se você entende inglês muito bem, conhece uma quantidade razoável de cultura (inútil ou não) americana e aprecia esse tipo de humor, vai passar duas horas rindo de doer a bochecha... de um filme que nem é comédia. Se, por outro lado, não saca inglês assim tão bem e procura até fugir do que vem dos EUA, mas está atrás de um filme que te divirta sem ofender sua inteligência (ao contrário, tantas vezes estimulando), também vai encontrar. Boa parte desse humor sutil pode acabar sendo percebida assim mesmo, exceto por fãs exclusivos de Snakes on a Plane e semelhantes.Então, leitor cinéfilo de verdade, dito isso, só resta acrescentar: "vá e veja".
