domingo, setembro 10, 2006

Pesadelo Supremo

This picture is hosted by ImageShackA Panini acaba de lançar o oitavo e último número da série fechada Pesadelo Supremo, uma versão ultimate (ridiculamente batizada de "millennium" no Brasil) da célebre Saga de Galactus, publicada há algumas décadas no universo Marvel regular.

Pesadelo é a reunião de quatro arcos de Os Supremos (os "Ultimate Vingadores") publicados em seqüência nos EUA: Ultimate Nightmare (tomo 1, com 4 histórias), Ultimate Secret (tomo 2, com 5 histórias), Ultimate Vision (um interlúdio, com páginas esparsas reunidas em história única) e Ultimate Extinction (tomo 3, em 5 histórias). Ao todo, os oito números da Panini trazem as 15 histórias, mais todas as capas originais e uma entrevista com o escritor Warren Ellis.

This picture is hosted by ImageShackA Marvel encontrou excelentes "desculpas" nessa série para reintroduzir alguns nomes importantes, como Capitão Marvel (por enquanto chamado apenas de Mahr Vehl), Falcão (ainda só Sam Wilson), um Surfista Prateado bem diferente, a Visão (sim, agora é "uma" robô) e o próprio Galactus (Gah Lak Tus, no universo ultimate), todos em novas versões muito interessantes. A saga, no conjunto, tinha tudo pra ser realmente memorável: desenhos muito bons, um argumentista ousado e inteligente, uma história-base clássica e versões ultimate de personagens que vêm deixando os tradicionais no chinelo faz tempo.

Ao invés disso, um ritmo atropelado demais (talvez por exigência da Marvel) e muitos diálogos aparentemente sem sentido (não foi por conta da tradução) acabaram tornando a série "apenas" muito boa. Teria sido mais bem desenvolvida se ocupasse, digamos, umas cinco histórias a mais lá fora (para 10 números inteiros no Brasil). Excluída a editora, boa parte da culpa vem mesmo do estilo sempre muito direto de Ellis. Funciona(va) muito bem em The Authority, trabalho autoral de Ellis, mas isso porque os personagens daquele universo não pedem nem dão explicações - agem com poucas palavras e só o que importa é destruir as ameaças monumentais que eles normalmente combatem.

This picture is hosted by ImageShackNa Marvel, a coisa é diferente. Os personagens são mais tridimensionais e pedem um desenvolvimento que Ellis talvez não esteja acostumado a escrever. No fim de tudo, não se sabe, por exemplo, se o Surfista é um sujeito só ou se são três - aparecem pelo menos três seres prateados em circunstâncias diferentes, e todos são arautos ou coisa assim. A história de clones que envolve a (também novata) Serpente da Lua ultimate é escandalosamente tirada da manga e deixada no ar, depois de alguma confusão sobre as intenções dela e de seus "irmãos".

Equívocos menores podem até ser desconsiderados, como quando, em um quadro, o "simples humano" Sam Wilson está deitado no chão com uma dezena de metralhadoras nervosas em volta dele... e sai dali correndo numa boa. O que fica difícil é encarar que, no início da história, o leitor se confunde pensando se Visão seria o arauto. Quando a Serpente aparece, passamos a desconfiar de que poderia ser ela. Depois de certo ponto da narrativa, quando tudo está mais claro, fica claro que isso não era uma estratégia de Ellis, pois não há desmentido ou reviravolta. Foi falta de clareza do texto, mesmo.

Enquanto isso, tudo o que cerca o novo Capitão Marvel, o novo Falcão e a nova Visão é fantástico, irretocável. A solução criada por Reed Richards e pelo Professor X para impedir a chegada do devorador de mundos (que aqui carrega o título ainda mais imponente de "O Descriador") é muito bem bolada, sem deux ex machina ou abuso da inteligência do leitor - a não ser talvez pelo excessivo drama criado por Richards. Ellis aproveitou muito bem alguns conceitos prévios das histórias do Quarteto e, na contramão de seu próprio jeito de narrar, caracterizou Mahr Vehl de maneira bastante completa.

This picture is hosted by ImageShackTambém foi um toque genial a utilização do misterioso Evento de Tunguska como parte da história - o evento aconteceu de fato (com uma liberdade criativa na data), mas até hoje não se sabe ao certo o que ele foi. E o que, afinal, é Gah Lak Tus? Um ser material único, uma inteligência quase incorpórea, um deus, uma frota de naves, uma arma? A falta de resposta definitiva é uma das diversas pontas soltas que Ellis cria para serem exploradas em (muitas) histórias futuras. O nome ficou meio besta, mas a idéia é bem melhor que a do gigante de sainha e capacete de guidom...

Como toda HQ "muito boa", conforme já avaliamos, essa vale a pena ser lida pelo fã de quadrinhos americanos tradicionais. Só assusta o preço. Enquanto a gente normalmente paga R$ 28,00 por um total de 16 histórias (preço de quatro revistas regulares de quatro histórias cada), a mini inteira acaba saindo por inexplicáveis R$ 47,00. Só o papel melhor não justificaria essa diferença tão grande - aliás, há uma edição com papel comum lá pelo meio da série, não se sabe por quê. Grandes vacilos da Panini, que poderia ter soltado só três edições, sem explorar seu consumidor. Depois, fazem chantagem nas seções de cartas pra gente comprar esse ou aquele especial, sob "pena" de coisas do tipo não saírem mais... A editora faz um trabalho incomparável, não há dúvida, mas o leitor que descobre que serão oito edições a R$ 6,00 cada (a última, por R$ 5,00) e faz as contas vai mesmo virar as costas. E com toda razão.