segunda-feira, setembro 11, 2006

Quase um poema de horror

Sem muito a dizer a respeito do quinto aniversário do 11 de Setembro - que nem deveria ser assunto deste site pópico -, preferi fazer a tradução de um pequeno trecho em inglês. Chamou a minha atenção essa bela introdução do texto publicado na Esquire em 2003 (e só lido agora) por Tom Junod, sobre um tópico inegavelmente forte em muitos sentidos: a foto que você vê abaixo.

Por trás da câmera estava Richard Drew, e a imagem foi comprada pela AP. A íntegra em inglês (o texto é bastante longo) está aqui.

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This picture is hosted by ImageShackVocê se lembra desta foto? Nos Estados Unidos, muita gente tem feito todo o possível para bani-la dos registros do 11 de Setembro de 2001. Entretanto, a história por detrás dela e a busca pelo homem retratado são nosso contato mais próximo com o horror daquele dia.

Na foto, o homem parte deste mundo como uma flecha. Ainda que não tenha escolhido voluntariamente seu destino, ele parece tê-lo abraçado em seus últimos instantes de vida. Se não estivesse caindo, poderia muito bem ser encarado como um homem voador. Ele aparenta estar tranqüilo, cruzando os ares. Parece estar confortável no comando de um movimento inimaginável. O homem não parece intimidado pela divina sucção da gravidade ou por aquilo que o aguarda. Seus braços vão ao longo do corpo, apenas levemente arqueados. Sua perna esquerda se dobra no joelho quase casualmente. Sua veste branca - uma camisa, um casaco ou uma bata - flana despreocupada com as calças pretas. Seus sapatos pretos ainda estão em seus pés.

Em todas as outras fotos, pessoas que fizeram o mesmo que ele e pularam do prédio aparentam estar lutando contra a terrível discrepância de magnitudes. Elas ficam reduzidas dentro do cenário das torres ao fundo, colossos que atraem toda a atenção, e mais ainda pelo tamanho do evento como um todo. Algumas estão sem camisa; seus calçados se desprendem enquanto elas caem e se debatem; parecem confusas ao tentar nadar por uma montanha abaixo. O homem nesta foto, ao contrário, está em perfeita vertical até mesmo com relação às linhas dos prédios atrás dele. Ele separa esses prédios e os define: tudo à esquerda do homem é a Torre Norte; tudo à direita é a Torre Sul. Ainda que desapercebido do equilíbrio geométrico que ele próprio conseguiu, o homem é é um elemento essencial na criação de uma bandeira nova, um pôster composto inteiramente de barras de metal brilhando sob o Sol.

Algumas das pessoas que vêem esta foto enxergam nela estoicismo, auto-controle, um retrato da resignação; outras enxergam diferente, algo discordante e, assim, muito mais terrível: a liberdade. Há algo de quase rebeldia na postura desse homem, que, embora encare a morte inevitável, decidiu aceitar e seguir em frente como um míssil ou uma lança atirados para alcançar seu próprio fim. Aos 15 segundos depois das 9h41 no horário local, momento em que a foto foi tirada, aquele homem está à mercê da mais pura física, acelerando a uma taxa de nove ponto oito metros por segundo ao quadrado. Dali a pouco, ele estará viajando a 240km/h, e se encontra de cabeça para baixo. Na foto, seu movimento está congelado; em sua vida fora do enquadramento, ele cai e continua a cair até desaparecer.


(Tradução por Rodrigo Seabra)