Descrições gerais em uma palavra são quase sempre injustas com um filme, sejam elas positivas ou negativas. Reduzem uma obra complexa a um termo que diz pouquíssimo, em nome de um simplismo que geralmente é fruto de pura preguiça do crítico. Mas, neste caso, não houve como fugir: The Black Dahlia pode ser muito bem qualificado como tedioso.
Como não pretendo repetir meio mundo, não vai ser necessário alongar muito essa resenha. A notícia já é velha, e a essas alturas já escreveram por aí muito do que eu escreveria. Todas as razões objetivas (existem outras?) descritas na maioria das resenhas pelo mundo seriam mantidas. A grande sensação em torno do filme - durante e depois - é a de um desenvolvimento extremamente chato e equivocado com um final razoável graças à história, e não àquelas duas horas que pareceram quase três.
Aliás, li tanta resenha que não lembro mais onde foi que alguém disse, em meio à destruição generalizada, que Scarlett Johansson e Josh Hartnett naquele contexto lembravam uma espécie de Bugsy Malone deturpado (no Brasil, o filme se chamou Quando As Metralhadoras Cospem). Puseram crianças interpretando adultos em papéis "de época", mas agora essas crianças não parecem "bonitinhas", e sim miseravelmente limitadas, quase risíveis.
Em se tratando de Brian De Palma, é de se presumir que haja também pequenos acertos. Talvez um aqui ou outro ali, mas o que prevalece mesmo é a impressão geral. Faz tempo que o diretor não constrói algo do porte de Carlito's Way ou The Untouchables, provavelmente seus últimos trabalhos de alta categoria. Mais importante: com o filme atual, o diretor não se redime da estrondosa bomba chamada Femme Fatale, cometida em 2002, cujo único grande atrativo sempre foi e sempre será a mera presença de Rebecca Romijn e mais nada.
Dentre os discutíveis méritos de Black Dahlia - a história, não necessariamente o filme - temos a inesperada correlação entre as obsessões pessoais de Lee Blanchard (o sempre correto Aaron Eckhart) e o caso do assassinato da "Dália Negra", apelido pelo qual ficou conhecida a atriz Elizabeth Short (interpretada por Mia Kirshner, de The L Word). Infelizmente, isso só acontece depois de inúmeras menções a nomes e eventos, joguinhos de sedução pra lá e pra cá, cortes aleatórios entre narrativas desencontradas, direção indecisa e um público fatalmente desinteressado depois de muito tempo à deriva. O tal cruzamento das histórias deveria ser um momento crucial, mas serve apenas para que o espectador reerga o corpo da cadeira e se prepare para dormir direito em casa.
As atuações insossas do referido casal não ajudam mesmo, mas isso não é tudo. Temos ainda uma Hilary Swank bastante ruim. A inexplicável ganhadora de dois Oscar deveria se ater à sua aclamada interpretação de white trash com sotaque vagabundo, porque definitivamente não convence no papel da ricaça lésbica e louca. No restante do elenco, talvez se destaque apenas a mãe da personagem de Swank, vivida por Fiona Shaw (a Tia Petúnia dos filmes Harry Potter) - algo forçada, mas convincente em sua insanidade.
A tentativa de De Palma de montar o filme à moda antiga, com cortes de cena enquanto a ação ainda corre e as falas não terminaram, é um recurso simples que ajudaria a transportar o espectador. Só que mesmo esse quase-mérito tem sua falha: a ambientação desejada serve muito mais aos próprios filmes policiais antigos do que à época retratada na história. O espectador é, então, transportado, sim, mas não para dentro do universo de The Black Dahlia, e sim para outros filmes que, por sua vez, tentavam emular o espírito de obras anteriores. De Palma brinca perigosamente com essas sobreposições e até consegue emular bem, mas a troco de nada.
Há um conteúdo riquíssimo na grande história de James Ellroy, e há essa interseção final das tramas, que tantas vezes pode representar a redenção de um filme que se pretende difícil. Mas De Palma não soube enxugar determinadas passagens que se esgotavam rápido - com especial atenção para a subtrama entre Johansson e Hartnett, um tanto óbvia ao público, ligeira em conteúdo e longa no resultado final -, enquanto outros trechos ficam confusos por simples falta de tempo dedicado a eles. Tudo bem que a maravilha Johansson encarna bem alguns estereótipos de atrizes antigas, com ar fatal e tudo. Mas isso funciona em still, não em movimento.
De Palma aparentemente buscou um duvidoso privilégio às "estrelinhas do momento", em detrimento da fluidez da história e de uma construção mais sólida de momentos pelos quais o espectador agradeceria. A cada vez que tentamos embarcar em um ritmo, bom ou ruim, o diretor muda a música. A certa altura, só resta desistir de dançar. E a festa se saiu esse tédio...