sábado, novembro 18, 2006

The Black Dahlia

This picture is hosted by ImageShackDescrições gerais em uma palavra são quase sempre injustas com um filme, sejam elas positivas ou negativas. Reduzem uma obra complexa a um termo que diz pouquíssimo, em nome de um simplismo que geralmente é fruto de pura preguiça do crítico. Mas, neste caso, não houve como fugir: The Black Dahlia pode ser muito bem qualificado como tedioso.

Como não pretendo repetir meio mundo, não vai ser necessário alongar muito essa resenha. A notícia já é velha, e a essas alturas já escreveram por aí muito do que eu escreveria. Todas as razões objetivas (existem outras?) descritas na maioria das resenhas pelo mundo seriam mantidas. A grande sensação em torno do filme - durante e depois - é a de um desenvolvimento extremamente chato e equivocado com um final razoável graças à história, e não àquelas duas horas que pareceram quase três.

Aliás, li tanta resenha que não lembro mais onde foi que alguém disse, em meio à destruição generalizada, que Scarlett Johansson e Josh Hartnett naquele contexto lembravam uma espécie de Bugsy Malone deturpado (no Brasil, o filme se chamou Quando As Metralhadoras Cospem). Puseram crianças interpretando adultos em papéis "de época", mas agora essas crianças não parecem "bonitinhas", e sim miseravelmente limitadas, quase risíveis.

Em se tratando de Brian De Palma, é de se presumir que haja também pequenos acertos. Talvez um aqui ou outro ali, mas o que prevalece mesmo é a impressão geral. Faz tempo que o diretor não constrói algo do porte de Carlito's Way ou The Untouchables, provavelmente seus últimos trabalhos de alta categoria.This picture is hosted by ImageShack This picture is hosted by ImageShack Mais importante: com o filme atual, o diretor não se redime da estrondosa bomba chamada Femme Fatale, cometida em 2002, cujo único grande atrativo sempre foi e sempre será a mera presença de Rebecca Romijn e mais nada.

Dentre os discutíveis méritos de Black Dahlia - a história, não necessariamente o filme - temos a inesperada correlação entre as obsessões pessoais de Lee Blanchard (o sempre correto Aaron Eckhart) e o caso do assassinato da "Dália Negra", apelido pelo qual ficou conhecida a atriz Elizabeth Short (interpretada por Mia Kirshner, de The L Word). Infelizmente, isso só acontece depois de inúmeras menções a nomes e eventos, joguinhos de sedução pra lá e pra cá, cortes aleatórios entre narrativas desencontradas, direção indecisa e um público fatalmente desinteressado depois de muito tempo à deriva.This picture is hosted by ImageShack O tal cruzamento das histórias deveria ser um momento crucial, mas serve apenas para que o espectador reerga o corpo da cadeira e se prepare para dormir direito em casa.

As atuações insossas do referido casal não ajudam mesmo, mas isso não é tudo. Temos ainda uma Hilary Swank bastante ruim. A inexplicável ganhadora de dois Oscar deveria se ater à sua aclamada interpretação de white trash com sotaque vagabundo, porque definitivamente não convence no papel da ricaça lésbica e louca. No restante do elenco, talvez se destaque apenas a mãe da personagem de Swank, vivida por Fiona Shaw (a Tia Petúnia dos filmes Harry Potter) - algo forçada, mas convincente em sua insanidade.

A tentativa de De Palma de montar o filme à moda antiga, com cortes de cena enquanto a ação ainda corre e as falas não terminaram, é um recurso simples que ajudaria a transportar o espectador. Só que mesmo esse quase-mérito tem sua falha: a ambientação desejada serve muito mais aos próprios filmes policiais antigos do que à época retratada na história. O espectador é, então, transportado, sim, mas não para dentro do universo de The Black Dahlia, e sim para outros filmes que, por sua vez, tentavam emular o espírito de obras anteriores. De Palma brinca perigosamente com essas sobreposições e até consegue emular bem, mas a troco de nada.

This picture is hosted by ImageShackHá um conteúdo riquíssimo na grande história de James Ellroy, e há essa interseção final das tramas, que tantas vezes pode representar a redenção de um filme que se pretende difícil. Mas De Palma não soube enxugar determinadas passagens que se esgotavam rápido - com especial atenção para a subtrama entre Johansson e Hartnett, um tanto óbvia ao público, ligeira em conteúdo e longa no resultado final -, enquanto outros trechos ficam confusos por simples falta de tempo dedicado a eles. Tudo bem que a maravilha Johansson encarna bem alguns estereótipos de atrizes antigas, com ar fatal e tudo. Mas isso funciona em still, não em movimento.

De Palma aparentemente buscou um duvidoso privilégio às "estrelinhas do momento", em detrimento da fluidez da história e de uma construção mais sólida de momentos pelos quais o espectador agradeceria. A cada vez que tentamos embarcar em um ritmo, bom ou ruim, o diretor muda a música. A certa altura, só resta desistir de dançar. E a festa se saiu esse tédio...