sábado, novembro 04, 2006

Lostícias 10

Na semana passada, "Every Man For Himself" voltou o foco ao grupo de capturados, mas já com interseções narrativas com o pessoal acampado. O episódio foi especialmente centrado nas conseqüências das recentes atividades de Sun e no "long con" de Sawyer, a quem cabem os flashbacks.

Abaixo, siga o mesmo esquema usual: manchona preta pra cobrir com o mouse entre duas imagens centralizadas. Lá no final da coluna vai algo parecido a respeito do episódio desta semana.

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- "Every man for himself" significa "cada um por si". Sawyer diz isso duas ou três vezes em sua jaula e, em seu flashback, não chega a dizer, mas é exatamente o que ele faz. O cara finge cumplicidade com outro pra poder salvar o próprio, ahn, traseiro. É como diz o diretor: o cara é tão bandido que conseguiu mentir e roubar o suficiente para sair da cadeia.

- A ameaça de Ben a Sawyer foi um tanto enfática, não? Quando o baixinho se mostra mais esperto que o "artista", desarma a estratégia do cara e ainda dá nele uma surra, ainda completa com "Você é bom, Sawyer, mas nós somos muito melhores". Com isso, aumenta o mistério em torno dos Outros - e só aumenta; deve ser por isso que a audiência americana vem caindo.

- O desenho a que Jack assiste em sua cela é do Patolino (Daffy Duck) e se chama The Blue Danube. Existe portanto uma relação com cisnes (swans) e, nesse desenho em particular, há o rapto dos filhotes por um abutre que é morto pelo Patolino no fim (pô, contei o fim...). Uma coisa interessante e meio louca que alguém de fora levantou é que esse desenho é a segunda parte de um programa de meia-hora. Na primeira, que é um desenho à parte, Pernalonga finge que foi baleado e morto pelo Hortelino (Elmer Fudd) para sacanear o caçador. Ben não forjou a morte do "coelhinho 8" para sacanear Sawyer? Tem cara de viagem, mas é coincidência demais...

- Mas há algo com o coelho que não é coincidência. Lá na primeira temporada, foi noticiado que Sawyer lia na praia o livro Watership Down. Quando perguntado a respeito, Sawyer faz piada com um "É sobre coelhos..." Não apenas o livro é mesmo "sobre coelhos" na aparência, como traz uma grande alegoria da condição humana e sua relação com a liberdade. No meio da história, os coelhos em sua nova comunidade se vêem sem fêmeas para a reprodução e planejam raptá-las de outras comunidades. Percebe a semelhança? E ainda há o fato de que...

- ... Juliet é especialista em fertilidade (humana, aparentemente). Claire foi seqüestrada pelos Outros na segunda temporada enquanto estava grávida, e Ethan fez com ela estudos de natureza ainda obscura. Ninguém faz idéia de quem são os Outros ou do que eles querem, mas Juliet tem de ter relação com esse rapto justamente da sobrevivente grávida. E quanto a todas aquelas crianças raptadas? Ben ainda deixa claro que "we're not killers" com ênfase em "killers", meio como se quisesse dizer o oposto: "nós damos vida". Sinal de loucura, como o "salvamento do mundo" da Hanso e de Inman?

- Toda a história da droga associada ao marcapasso tem mais uma vez a ver com condicionamento puro e simples. E, se Ben sabia que Kate podia escapar e não o fez por Sawyer, também essa foi uma experiência com condicionamento. Tudo muito cruel, claro.

- Alguém sabe se aquela camisa que Paulo usa é de algum time? A descrição não traz nada e ela não tem número nas costas. Poderia ser pista de alguma coisa, como uma nacionalidade.

- Mais uma espécie de alarme falso para os manés entusiastas de algum "casinho de amor" no meio da saudável bagunça que é Lost. Pelo menos dessa vez a coisa foi mais sincera: Kate diz que ama Sawyer só para que ele não seja mais espancado, mas depois ela age de acordo. Tinha a opção de tentar voltar ao acampamento ou de tentar soltar Sawyer, mas, diante dos pedidos para desistir, ela simplesmente escolhe voltar para sua cela. Se isso não diz muito, não sei o que mais diria... E ainda diz um "live together, die alone" pra acompanhar...

- Sei lá se a grande revelação que estava prevista para Sawyer, segundo falaram antes, era a existência da própria segunda ilha em que eles estão esse tempo todo. A tal grande revelação iria "mudar o rumo da série", segundo noticiaram, mas essa não me pareceu algo que vá mudar tudo, ainda que seja bem interessante. A não ser, claro, se o caso da segunda ilha ainda tiver desdobramentos, como a descoberta da "civilização dos Outros" pelos sobreviventes, um levante, um contato com o mundo... Mas aí seria outra história, outro capítulo, outras revelações.

- Jack percebe a briga por poder entre Juliet e Ben. Fica claro que Juliet pensa em "trabalhar com", mas as ordens de Ben sempre sugerem "trabalhar para". Há um racha entre os Outros, e essa divisão não tem relação com os sobreviventes - nem de causa e nem de efeito, até agora. Ela já existia e pode vir a ser determinante.

- Desmond vai complicar a vida de Charlie e Claire? Bom, acredito que ele só foi lá por causa do pressentimento do raio. E esse é mais um indício das premonições de poucos minutos do cara: começa a chover do nada e o raio cai exatamente no lugar em que ele resolveu redescobrir a eletricidade. É bastante curioso que David Hume, o filósofo, tenha trabalhado tanto com as questões do determinismo (tudo o que acontece já estava "escrito" que aconteceria) e do indutivismo (inferir que algo vá acontecer só porque "vem acontecendo"), enquanto o personagem Desmond David Hume começa justamente a adivinhar as coisas antes que elas ocorram.

- Adaptando a informação de um site estrangeiro: há mais uma forte evidência de que Locke também possa ver o futuro. Durante sua alucinação mostrada em Further Instructions, ele ouviu Sawyer no aeroporto dizendo a Kate a frase "Wipe the stars out of your eyes, sweetheart" ("enxugue as estrelas de seus olhos, querida"). Neste episódio de agora, Sawyer disse a Kate exatamente a mesma coisa enquanto explicava a ela sua artimanha com a eletricidade.

- Of Mice and Men: o livro de John Steinbeck, com o nome Ratos e Homens em português, fala do isolamento humano e das pessoas lutando por suas liberdades individuais (de novo, uma relação com "cada um por si"). Um dos personagens principais sonha com coelhos. Há uma relação clara do livro também com a recorrente frase de Kate, "live together, die alone". E o que mais são os capturados (ou todos os sobreviventes?), senão ratinhos de laboratório à disposição dos Outros?

- Há um bocado de quatros e oitos nos flashbacks de Sawyer (e mais o coelho), e o 23 é mencionado no número da conta de banco. A taxa de tolerância do reloginho de Sawyer é justamente 15. Mas estão causando mais curiosidade as ocorrências freqüentes do número dois. Só nesse episódio, ele aparece com destaque umas três vezes.

- Sawyer tem uma filha com a mulher que ele enganou em seu "long con". Mais uma relação problemática de pais e filhos. O nome do bebê é Clementine. Tudo isso abaixo que eu pesquisei relacionado ao nome é provavelmente viagem errada, mas veja só: Tom Sawyer e Huckleberry Finn são os dois grandes amigos dos livros de Mark Twain; o Dom Pixote em inglês se chama Huckleberry Hound, e tanto ele quanto James 'Sawyer' Ford foram nomeados como homenagem a esses personagens; a música preferida de Huckleberry Hound é Oh My Darling, Clementine; e o refrão da música diz "You are lost for me forever / Dreadful sorry, Clementine"; Sawyer, então, tem uma filha que remete a Huck e ainda fala em "lost forever". Viagem erradíssima, mas dá vontade de que seja verdade, fala sério...

- Alguém tem um tumor na medula, e é um homem. Depois que levaram Colleen baleada à estação dos Outros, daria tempo de "preparar" aquilo, já que Jack foi chamado a intervir bem depois - Juliet até mesmo extraiu a bala antes de ele aparecer. Será que as radiografias foram deixadas lá de propósito para que Jack as visse e concluísse alguma coisa? Será que alguém realmente tem um tumor na medula ou é só mais um jeito de manipular o médico?

- Mais uma dualidade entre branco (Sawyer, o crime, a prisão, a enganação) versus negro (o diretor, a lei, a liberdade, o cumprimento da palavra).

- É curioso que Sawyer, na sua eterna busca por apelidos engraçados, chame Munson (o prisioneiro enganado) de "Costanza" como clara referência a George Costanza, de Seinfeld. O prisioneiro e o clássico personagem se parecem mesmo. Logo depois, ao falar com Ben, Sawyer o chama de George, mas dessa vez por causa do livro de Steinbeck (veja acima), sem nenhuma relação.

- Sawyer exigiu que sua recompensa fosse depositada num banco em Albuquerque. Pois essa cidade fica no estado americano do Novo México. O banco que Kate assaltou num episódio há mais tempo (em que ela até se finge de vítima) era no Novo México. Fill in the blanks...


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Como você já deve saber, as legendas do LostBrasil foram forçadas a sumir do site e o webmaster de lá foi até ameaçado de processo.

This picture is hosted by ImageShackÀ primeira vista, parece um total absurdo essa punição, mas a questão realmente é complicada porque não existe jurisprudência (decisões em casos semelhantes) suficiente no Brasil para se fazer uma interpretação única (e então prevalece a do mais podero$o). A própria legislação não atende ao ramo dos downloads como deveria. Como praticamente tudo neste país, precisa de reforma pra anteontem.

O negócio é que ninguém está tendo lucro financeiro com as traduções do texto, e a distribuição é feita de modo tão abnegado quanto possível - grátis e aberta a todos. A marca "Lost" é obviamente alheia, e ninguém no site faz questão de tomá-la para si. Só que o texto original de cada episódio, assim como um livro ou um post autoral na internet, cria direito de autor e fica vinculado a quem o escreveu. Qualquer tradução tem de ser autorizada e acarreta transferência de direitos por um trâmite formal, como inclusive acontece para as legendas e dublagens na TV.

E aí vem a internet e muda um bocado o conceito de publicidade (qualquer que decidam tomar). A capacidade de tornar públicas determinadas peças não está mais restrita a um grupinho de emissores - que, claro, estão atualmente se sentindo ameaçados e acuados, apelando no desespero para todas as armas descabidas de que dispõem.

No fim das contas, em termos de ataque direto, a ameaça de processo é um disparate, uma assembléia da ONU por causa de um bueiro aberto, ou comprar uma Ferrari para ir à padaria de madrugada. Então o que sobra é o ataque indireto: essa manobra, teoricamente, faria com que o pessoal parasse de baixar os capítulos. E esse teoricamente é tão teórico que não dá pra acreditar que meia-dúzia de pessoas serão seriamente afetadas.

This picture is hosted by ImageShackAs legendas continuam e continuarão a ser produzidas (não por mim, com certeza) e trocadas via instant messengers e outras redes, sem precisar do site. Todo mundo que tem um amigo fã da série vai conversar com o próximo e o outro, e assim a coisa alastra fácil. Arquivos de legenda têm o quê? Uns 50kb?? Sendo assim, o webmaster, que não comercializa nada dessa produção, estaria sofrendo ameaça de processo à tôa e, no fim, nada poderia ser provado contra ele, nem mesmo má fé. É só mais uma demonstração vulgar de poder de quem ainda acha que pode.

Se estão em busca de solução, que renegociem os contratos de exibição na TV e comecem a pensar no público que baixa as séries. Procurem agradar seus consumidores, que, afinal, são a única razão da existência dos canais de televisão! Em vez de o AXN transmitir os episódios com seis meses de atraso, por exemplo, que passe a trazê-los com só uma semana de diferença, como acontece com o Letterman no Brasil ou com outras séries em outros lugares do mundo, exatamente como estratégia para diminuir a pirataria - e as notícias são de que isso tem funcionado! É puramente uma questão de bom senso contratual.

Mas, como nós já vimos nas contas para a exibição de Lost no Brasil (em outra Lostícias aí pra trás) e em tantas dezenas de lambanças de Warner, FX ou Sony, o que não falta aos canais a cabo brasileiros é má vontade e incompetência. Em vez de tomar uma Aspirina, cortam a cabeça, põem fogo e mandam a foto pro jornal...

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Na semana passada, alguns sites próximos aos produtores de Lost disseram que o jogo Lost Experience, que transcorreu na internet de maio a setembro deste ano, pode ganhar um "falso documentário" com informações adicionais.

This picture is hosted by ImageShackPresume-se que o documentário, ambientado no "mundo paralelo" de Lost Experience (ou seja, não seria making of, vídeo de bastidores nem nada assim), traria as andanças de Rachel Blake (Jamie Silberhartz) provavelmente filmadas por ela mesma, e ainda material de arquivo que a hacker (ou um canal de TV fictício, quem sabe) adicionou a respeito das atividades da Fundação Hanso. De qualquer forma, é provável que trechos do jogo que não ficaram claros venham a ser conhecidos com mais detalhes, e atividades desconhecidas da Fundação podem vir alimentar novas teorias.

Esse filminho entraria como extra na caixa de DVDs da terceira temporada, a ser lançada no meio de 2007. Se isso soa meio tarde para incluir informações adicionais, há uma possibilidade ainda melhor: o documentário pode ser lançado literalmente qualquer dia desses, na caixa de HD-DVDs da primeira temporada. Não duvido de que vá ser lançada durante o hiato de três meses de Lost, para manter algum interesse na série.

Ah, um detalhe que faltou mencionar e que já é certo: vai mesmo acontecer uma seqüência de Lost Experience no ano que vem!

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Trechinho que interessa de uma entrevista do Rodrigo Santoro à Folha:

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As particularidades de Paulo obrigaram Santoro a repensar o método de trabalho. "Quando vi que não tinha onde pesquisar, decidi trabalhar com a não-construção. Faço o personagem existir a cada cena".

Como a temporada havaiana não deve se estender indefinidamente - o ator disse já saber quando deixará a série -, cada minuto livre é pretexto para diversão. "Levo uma prancha no carro. Se dá tempo, dou uma surfada antes do trabalho ou no intervalo. Também jogo bola com o Ian [Cusick, que interpreta Desmond]. Para mim, é como estar na Disneylândia."

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A data para o retorno da atual temporada na TV americana já foi marcada. Contrariando tudo o que vinha sendo dito até agora (meados de janeiro), a segunda parte da terceira temporada retorna no dia 7 de fevereiro de 2007, três meses depois da exibição do capítulo 6 (quarta-feira da semana que vem).

Logo de começo, os criadores e escritores de Lost se manifestaram contrários às constantes reprises que a ABC vinha promovendo. O público chiou, a audiência sempre tomava um baque e a história, claro, se tornava ainda mais confusa. Mas essa data definitiva foi escolhida com base em cronograma de filmagens. Parece que não daria pra cumprir a previsão anterior e empurraram um pouco.

Nos meus cálculos anteriores sobre quando o AXN poderia voltar a exibir Lost no Brasil, levei em consideração duas semanas de tolerância - exatamente o atraso que anunciaram agora. O cálculo, portanto, ainda é o mesmo: o AXN poderia voltar com a série no começo de janeiro ou até um pouco antes. Quando tivessem de transmitir o capítulo 7 (o do dia 7/2), os seis capítulos anteriores já teriam preenchido a cláusula do "intervalo de um mês".

Como o AXN mantém sua estréia em "data indefinida de fevereiro", possivelmente lá pelo meio do mês, a besteira do canal se mantém.

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Bom, não vou vir com aquele papo de "o melhor da temporada", mas "The Cost of Living", episódio da última quarta, foi o que mais gostei de assistir dentre os dessa leva recente, apesar do que acontece nele. Os flashbacks ficam a cargo de Mr. Eko. Ficamos sabendo como ele se estabeleceu como padre, depois da partida de seus amigos criminosos, seu irmão e as santas-do-pau-oco.

Abaixo, os comentários no mesmo esquema habitual:

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- Não fica definitivamente comprovado, já que nunca vemos a transformação, mas tudo indica que o monstro de fumaça pode mesmo ler as mentes dos sobreviventes, ou algo assim, e se materializar como a culpa ou quem sabe apenas a "grande perturbação" de cada um. Seria uma espécie de redentor. Não dá pra afirmar, mas, seguindo o mesmo raciocínio, foi ele quem encarnou o amigo imaginário de Hurley, o pai de Jack e aquele cavalo preto que Kate e Sawyer conseguiam ver ao mesmo tempo (o que prova que não foi alucinação). Tanto o corpo de Yemi quanto o do pai de Jack sumiram, certo? O monstro pode ter pegado ambos como "matrizes" para a sua materialização. Enquanto isso... onde diabos está Vincent?

- Caso o leitor fique revoltado com a afirmação acima - de que não necessariamente o monstro e a figura de Yemi fossem o mesmo (embora realmente pareça que sim) - aí vai algo a se pensar. Há mais de uma razão pela qual Yemi poderia dizer a Eko que não era seu irmão. A primeira é que Eko pode ter imaginado a conversa, como bem seria razoável supôr. A segunda é que Yemi poderia vir guardando esse segredo verdadeiro - eles não eram irmãos. Outra, que Yemi não considerava aquela pessoa tão má e nunca arrependida como seu irmão, mesmo que fossem sangue do mesmo sangue. E, por fim... bom, considerando a série, ele não era Yemi porque poderia ser basicamente qualquer coisa... Enquanto a gente não vê de verdade a transformação da fumaça em algo ou alguém, fica difícil afirmar. Mas a tenda de Eko pegar fogo logo no começo é um bom indício de que aquele Yemi era real de alguma forma!

- Se alguém souber o significado do ritual e das roupas no enterro de Colleen, escreve aí. Só dá pra dizer mesmo que têm a ver com hinduísmo, e aí temos mais uma relação forte dessa corrente filosófico-religiosa com diversos conceitos da série. A música que toca durante a cerimônia, entretanto, não tem nada de religioso: I Wonder, cantada por Brenda Lee.

- Pra quem vê mais de uma série (heh), saiba que a freira nos flashbacks de Eko é a guarda florestal de Invasion. Mas o menino Daniel (um anjo?) não é o filho black-power de "MYY-NAAME-IS-ÊRLE".

This picture is hosted by ImageShack- Temos o surgimento de um dos personagens mais misteriosos da série até agora e, ao mesmo tempo, o clichê mais batido: o homem do tapa-olho. Por que tudo quanto é mistério tem de envolver um homem com um tapa-olho em algum momento? Você já viu alguém usando isso mesmo, e que fosse em definitivo?

- Após a morte de Eko, o único "tailie" (o grupo que estava na parte de trás do avião) em meio aos sobreviventes é Bernard, que anda bem sumido. Aliás, nem é um "autêntico tailie", estava só usando o banheiro lá no fundão. Será que dá pra desconfiar justo do Bernard?

- To Kill a Mockingbird: trata-se do filme definitivo de Gregory Peck, em que ele encarna um dos maiores heróis da história do cinema americano, o advogado Atticus Finch. No Brasil, livro e filme se chamaram O Sol É Para Todos. A escritora original é Harper Lee, a companheira de viagem de Truman Capote. O título original quer dizer algo mais próximo a "como matar um sabiá", e aí há uma grande sacada: o mockingbird é uma espécie particular de sabiá que é "poliglota"! O sujeitinho é capaz de soar como muitos outros pássaros e se passar por eles, ou seja, o filme a que Jack deveria estar assistindo tem no título um bicho que sabe se passar por outro e enganar todo mundo. Seria uma referência a Ben ou à própria Juliet? O filme faz um monte de considerações a respeito de bem, mal e a alma humana. Não só se aplica perfeitamente ao questionamento feito a Eko como serve para tanta discussão em termos de Lost que é melhor nem entrar nisso...

- Uma bela frase de efeito de Locke, que deve ter repercussões maiores para a série: "Não confunda coincidência com destino traçado". Ele diz isso a Desmond quando o escocês percebe a estranha coincidência das buscas de Eko (pelo irmão) e de Locke (pela estação Pearl). Locke, portanto, deixa claro mais uma vez que acredita que é o destino de todos eles estarem ali. O incidente púrpura e a implosão da estação Swan abalaram a fé do caçador, mas parece que, depois da alucinada na sauna, deu tempo de ele se encontrar outra vez.

- Esse encadeamento, aliás, deixou uma impressão bastante forte: tudo o que aconteceu até agora levou à convergência das duas buscas, e, assim como Boone, Eko foi mais um sacrifício exigido pela ilha. Ele expiou com a vida sua culpa pela morte do irmão, permitindo assim que Locke e os seus companheiros tivessem a revelação de que a estação Pearl seria decisiva no resgate de Jack, Sawyer e Kate. Os sobreviventes precisavam dessa pista, e o preço foi a vida de Eko, o único bem de que o africano dispunha e que era compatível com o tamanho de sua culpa. Foi quase um suicídio, na verdade, ainda mais considerando sua última conversa com o irmão (em que ele admite a tal culpa, mas não o sentimento dela) e as últimas palavras a Locke (algo como "a fila do confessionário acaba de andar"). Mas Eko não tinha como saber que estava pagando esse preço para que seus amigos tivessem a revelação. Tudo muito bem costurado.

This picture is hosted by ImageShack- Nikki e Paulo começam a mostrar serviço exatamente para o que vieram fazer: servir de braço extra e novos focos de interesse, pelo menos até que seja conveniente. Kiele Sanchez está realmente destruidora em termos de beleza, mais ainda que em Related. Pagando um pouco de língua aqui e voltando atrás numa opiniãozinha besta, não dá pra negar que Juliet está destruindo com tanta força que conseguiu chamar muito a atenção - e claro que digo fisicamente. Ficam pau a pau. Só é pena que Santoro vá fazer o papel do "alívio cômico", o tipo do engraçadinho chato, e não gente boa feito Hurley.

- As radiografias não foram deixadas na parede de propósito, no capítulo anterior. Ou foi acidente ou é uma jogada de Juliet, como fica claro pela conversa exclusiva entre ela e Ben na praia. Se fosse algo planejado, teriam feito Jack ouvir (e ficar encucado) ou simplesmente não teriam conversado daquela forma. Não haveria razão.

- O jogo de "ignore o que eu falo e leia os cartazes" foi fantástico. Aquilo, sim, bagunçou não apenas a cabeça de Jack, mas também a do espectador. Não se sabe mais o que pensar a respeito da rivalidade interna dos Outros. Ao mesmo tempo em que parece que Ben está ali como uma "continuação" do Dharma, possivelmente sob ordens antigas de Mittelwerk ou outro manda-chuva corrupto da Hanso, como é que Juliet poderia ter gravado tudo sem o conhecimento de seu paranóico "líder"? Mas também é bom lembrar que Ben está na ilha "desde sempre", segundo ele próprio. Sua obsessão pelo antigo regime pode ser a razão da discórdia entre ele e Juliet, que teria sido introduzida na ilha posteriormente. Muito, muito difícil isso tudo...

- Só pra complicar: alguém reparou que a roupa dela no vídeo é a mesma que ela usava lá no primeiro episódio e não tinha nada a ver com a roupa que ela usa na frente de Jack ali, na hora?

- Aliás, por que Ben diria a Jack, na cara, que os Outros tinham um plano para fazê-lo ceder? Isso faz parte de uma jogada (não é difícil supôr que Jack já teria pensado que esse plano existia mesmo, claro) ou foi uma grande bobeada de Ben, que estaria então contradizendo muito do que já disse? O fato é que, mais uma vez, o médico é chamado à fé. E justo por quem... Enquanto isso, Locke realimenta suas crenças e Eko morre por sua razão, sem nunca negar a fé.

- Uma coisa dita por Ben eu tinha apontado antes (sem querer exclusividade, claro): a semelhança de Juliet com a ex-mulher de Jack não é apenas óbvia, é intencional.

- Pra ficar claro: em entrevistas, tanto Carlton Cuse e Damon Lindelof (criadores de Lost) quanto o próprio Adewale Akinnuoye-Agbaje (o Mr. Eko) deixaram claro que a trajetória e a morte do personagem já vinham escritas há tempos. Há sempre tramas em desenvolvimento, mas há outras cujo final já se sabe desde que eles começam a redigir. Não há, portanto, qualquer relação com os problemas recentes de Adewale com multas de trânsito, a não ser a grande coincidência de que Ana-Lucia e Libby também morreram logo depois de tomarem suas multas no Havaí. Segundo os produtores, a maior prova disso é que o caso de Adewale foi logo em seguida considerado em engano dos policiais (não havia ilegalidade), todas as queixas foram retiradas e a imprensa chegou antes e fez um escarcéu. Mas... também consta que Adewale era um dos atores mais difíceis em cena, um pouco temperamental demais. Seu contrato sempre foi temporário a pedido do próprio ator e, se dependesse dele, Eko já até teria morrido há mais tempo.

- Quando Eko vai ao encontro final do "Yemi que não é Yemi", só me veio uma coisa à cabeça: aquele cenário seria uma representação exata do que eu imagino que seja o Salmo 23 - não, eu não sou religioso nem nada, só imaginava isso por alguma razão. E então, logo antes de sua morte, Eko recita esse mesmo texto e é brutalmente espancado pela fumaça negra.

- Pelamordedeus... "You're next"?? Singular, plural e os próximos a quê? Fechamento clichê matador!


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