
Falando em livraria, amanhã devo falar sobre o Salão do Livro de BH (por mim, seria "livro", entre aspas), no qual pude comprar alguns quadrinhos normalmente bem caros com um bom desconto. Segue o texto da Folha, com todos os devidos créditos possíveis e imagináveis, claro.
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Contos trazem de volta universo violento e sensual de Sin City
Fausto Salvadori Filho
Folha Online
(veja texto original)
Frank Miller está de volta a Basin City, a Cidade do Pecado, em que prostitutas de rua com feições de top models usam submetralhadoras como adereços, brutamontes de coração mole cometem chacinas para salvar garotinhas e assassinas voluptuosas fazem amor com suas vítimas antes de liqüidá-las com um golpe do salto alto. Sin City, onde piedosos cardeais mantêm fazendas de canibalismo e engravatados de ar respeitável carregam o cadáver da esposa no porta-malas do carro.

Um dos contos reunidos é "O cliente tem sempre razão", história de três páginas que deu origem à versão cinematográfica de Sin City, dirigida no ano passado por Robert Rodriguez (de El Mariachi e Pequenos Espiões) e pelo próprio Miller.
Rodriguez, porém, teve trabalho para convencer Miller a ceder os direitos da adaptação. Gato escaldado no cinema - ele já havia escrito os roteiros de Rocobop 2 e 3 e detestado o resultado final -, Miller não queria ver sua obra mais pessoal arruinada por Hollywood.
Rodriguez só conseguiu convencer o autor de Sin City depois de fazer, por sua própria conta, uma adaptação de três minutos do conto "O cliente tem sempre razão". Miller ficou tão impressionado com o resultado que não só autorizou a adaptação como dirigiu a produção junto com Rodriguez. Utilizando os quadrinhos de Miller como storyboards, Sin City, o filme, fez um uso intenso dos recursos digitais, filmando a maior parte do tempo os atores contra fundos azuis, que na edição eram preenchidos com cenários de computação gráfica.
Os recursos mais avançados da técnica cinematográfica foram usados para levar às telas o que Frank Miller havia conseguido apenas com papel e tinta: belas histórias desencantadas contadas por uma impressionante arte em preto-e-branco, de iluminação expressionista e uso intenso de contrastes claro-escuros.

Miller também aproveita o formato de histórias curtas para fazer outras experimentações. "Ratos" destoa das demais histórias de Sin City, ao contar a história de um velho carrasco nazista que se diverte sufocando ratos com o gás do fogão em um velho apartamento, até ser morto da mesma maneira por um desafeto. "Noite de Paz" é um conto de 26 páginas narrado quase exclusivamente com quadros de página inteira e praticamente sem palavras, protagonizada por Marv - o grandalhão brutal, meio burro e gente-boa, interpretado por Mickey Rourke no filme.
Marv continua a aparecer em várias histórias de Sin City, embora tenha morrido na cadeira elétrica logo ao final do primeiro arco de histórias da série (Sin City: a Cidade do Pecado, 1991). O mesmo vale para outros personagens e outras situações. Não há linearidade nos volumes de Sin City: como em Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994) as histórias vão e vêm no tempo, protagonistas de um volume surgem como coadjuvantes de outros e vice-versa, num jogo de referências que faz o deleite dos leitores mais atentos.
A maioria das histórias reunidas no volume já havia sido publicada no Brasil de maneira esparsa, por editoras semi-amadoras que faziam um trabalho de qualidade duvidosa. Como nos outros álbuns da série lançados pela Devir, Balas, garotas e bebidas valoriza a arte de Frank Miller com um trabalho de edição caprichado, que inclui pin-ups e uma galeria das capas originais.
Um luxo

É o sonho de todo fã, mas para a imensa maioria nunca poderá ser mais do que em sonho. Nas livrarias que trabalham com material importado, cada uma das caixas, com quatro volumes, está saindo por R$ 466.