quarta-feira, outubro 18, 2006

Diferença crucial

This picture is hosted by ImageShackO blog de Sandra Carvalho sobre tecnologia é das poucas coisas que ainda vale a pena ler na edição online da revista InfoExame, cada vez mais coalhada de erros crassos de informação, de português e até de jornalismo (dando notícia que não é notícia, por exemplo).

Destaco um post recente daquele blog, com o título "Partido Pirata da Suécia se dá mal nas eleições". Aí vai a transcrição do último parágrafo:

Em tempo: esses piratas suecos, um grupo que questiona copyright e patentes por princípio, nada tem a ver com os piratas que a Polícia Federal está prendendo hoje, 16 de outubro, aqui no Brasil, sob acusação de i-commerce (illegal commerce), isto é, de fazer cópias comerciais em massa de conteúdo alheio e faturar com isso.

Fora a notícia (que mostra que o partido pode ter ficado pra trás no começo, mas deve ter futuro), acredito que o mais importante é esse último parágrafo ter saído num veículo de grande circulação. Até que enfim alguém "com voz" acordou pra essa diferença e manifestou isso! As duas atividades são totalmente diferentes e, enquanto uma é claramente ilegal e imoral, sobre a outra ainda pesam dúvidas de ordens diversas, inclusive a questão da intromissão nas liberdades individuais.

Mas não vamos entrar na discussão de méritos. Ao contrário de juristas, agentes de segurança, jornalistas e principalmente executivos das indústrias de entretenimento que teimam em não enxergar em cores, não me considero capaz de apitar a respeito de assuntos sobre os quais não estou plenamente informado. Por enquanto, só comemoro que alguém mais tenha juízo o suficiente pra apontar a tal diferença de comportamentos, que é ululante por si mesma e independe de opinião. Ela existe tanto quanto existimos eu e você que lê este texto.

This picture is hosted by ImageShackO partido ao qual ela se refere é aquele ligado ao pessoal do distribuidor de torrents The Pirate Bay, que não é o maior da internet, mas está entre os grandes. Há pouco tempo, o site foi alvo de uma daquelas operações desastradas da RIAA e companhia; tentaram fechar o Pirate Bay, tentaram fazer o escambau contra ele... e, claro, confirmando as previsões de todo mundo que realmente vive online e compreende o funcionamento dessas novas tecnologias, o serviço continua de pé. O processo todo virou até um filminho que os próprios "piratas" fazem questão de manter no ar. Sem falar que o site de download é um barato!

"Apologia" aqui? Nenhuma. Como eu disse, não vou entrar no mérito.

UPDATE (19 out 2006): a respeito da ação contra os 20 internautas brasileiros, um amigo me enviou parte de uma matéria do Estadão, na qual um blogueiro que mexe com MP3 é entrevistado. Reproduzo abaixo o mesmo trecho que meu amigo enviou, relembrando que esse entrevistado não vende CD de baixa qualidade na rua - o negócio dele é postar links, e só:

"As pessoas não deixaram de comprar discos por causa da internet. Talvez tenha ficado mais difícil acumular fortunas obscenas. Mas não vou me preocupar se determinada estrela do hip-hop não tem dinheiro para colocar mais uma prótese dentária de diamante no seu cão, ou se uma gravadora não consegue mais pagar limusines para todos os seus diretores (pausa para comentário acusatório do sempre conservador Estadão, que chama o cara de "hippie") No fim das contas, a música e os filmes são bens culturais, e não é justo que o acesso a eles dependa da capacidade financeira ou localização geográfica das pessoas. O blog é como um jardim aberto ao mundo inteiro. Para mim é um serviço público, destinado a todas as pessoas que, como eu, precisam de música para viver."